LEMBRANÇAS.
É teu o meu coração,
Vê, como ele chora,
A minha distorcida razão,
Vê, como ela foi embora,
Desfez-se toda minha emoção,
Toda minha euforia foi ralo afora,
Não existe mais canto,
Apenas notas de desencanto.
É teu, o motivo essas minhas psicoses
E de por elas chorar tanto,
E de tantas infinitas neuroses,
E pensam… E dizem até que sou monstro,
Mas essa dor em pequenas doses,
Aprisionado-me no escuro canto,
Fazendo-me quem não deve ser,
E vejo quem eu não quer ver.
É teu este meu coração sofrido,
Meus olhos cheios de lágrimas,
No peito um bater dolorido,
Me perco, me encontro, nestas rimas,
Meu poema como alarido,
O amor… Que foi outrora, hoje está esquecido,
O meu amor…
É minha dor…
É teu este canto que escuto tão distante?
Parece o canto de uma ave triste,
Sinto a tua dor neste instante,
Dor aguda, dor que insiste,
Dor pela tua dor agoniante,
Dor que na alma persiste,
Eu sou aquele antigo verso sim fim,
Ainda te lembras de mim?
É teu este poema,
Por ti escrevo constantemente,
No meu trabalho de ocultar o esquema,
Transcrevo a tua alma penitente,
Teu olhar de reluzente diadema,
Faz o meu chorar tristemente,
Sou a flor, sou a dor do mundo sem fim,
Ainda te lembras de mim?
É teu… tudo neste ser poético é teu,
A rima desajustada é tua,
O poema desnudo é unicamente teu,
Está alma silenciosa é também tua,
O verso… Embora, desprezível, é teu,
A canção de todas as manhãs… também é tua,
Sou a abelha sobrevoando o jardim,
Ainda te lembras de mim?
É teu… O lume do novo dia,
Que se levanta no alto da clareira,
Foi teu… Aquele sorriso de alegria,
Flor da primavera, flor de laranjeira,
Àquela que nunca murcharia,
Foi-se embora na noite primeira,
Sou ser estranho confesso, mesmo assim,
Ainda te lembras de mim?
É teu… O luzir do luar,
Cada estrela reluzente,
Esse meu jeito confuso de amar,
Um contentamento descontente,
Que em versos se faz cantar,
Flor de beleza permanente,
Sou a oitava, o quarteto, a rima sem fim,
Ainda te lembras de mim?
É teu, este olhar desiludido,
Este olhar sem esperança,
De todos esquecido,
Triste e solitária criança,
Guerreiro vencido,
Vivendo na iludida crença,
Apesar de tudo, te amando mesmo assim,
Ainda te lembras de mim?
É teu… Eis que tudo é,
Sempre foi seu,
Eu, poeta sem fé,
Que nunca creu,
Você sabe bem como é,
Tudo sempre foi teu,
Permita-me insistir mesmo assim,
Ainda te lembras de mim?