Negrinho da pasta “oreia”
Não era o negrinho catarrento
Com o dente já podre de pasta de cinza
Que olhava de lado pro velho ranzinza;
Era a fome brincando de pique,
Que pulava trapiche,
Que passava seu dedo em lugar do anel,
Que não ia pro céu
Nem da boca da onça sonsa.
Que rolava trambique,
Mastigava até piche na boca do lixo;
Era a polenta bem quente
Que vem de repente pra boca da gente,
Depois de três dias de broca doída;
Que queimava essa boca
Que é boca de homem
Aquele, que dizem que tudo o que é dele,
O bicho não come.
Não era o negrinho magrelo
Com a cara de pé-de-chinelo
Que olhava pro sol e fazia careta
Careta de símio, cabelo amarelo
Secado de lua, de água de rio...
De fome, de sede, de raiva e de frio...
Era a miséria zanzando com jeito de morte
De gado de corte e o gado era eu...
E com muito mais norte,
E sem medo da morte,
E bem muito mais forte o menino cresceu.