A CANOA DE JEREMIAS

Francisco de Paula Melo Aguiar

A canoa de Jeremias

Era o único transporte

De Santa Rita a usina, todos os dias

O Paraíba cheio, comporte.

Construída do miolo

De madeira de lei

Inversão do nado, cabriolo

Leva e trás gente de cada vez.

Passa rico e pobre também

Corta a água do Paraíba

De beira a beira como ninguém

Banho de gente afoita, pindaíba.

O jornal falado do dia

Era ouvido da boca do povo

Matraca da vida alheia corria

Bajulador, puxa-saco, balança ovo.

Eram tantos os adjetivos

Ouvidos e levados para o patrão

Verdadeiro cheira curativos

Diga ai “seu menino” em atenção.

O coronel deitado na rede

Ouvia em silêncio seu operário

Comia, dormia e acordava com sede

Do relatório do canoeiro diário.

A canoa de Jeremias era a independência

Sim! Um território fora da terra firme

Do massapé da Várzea sua existência

Senzala, lugar sem leis e pulso infirme.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 18/04/2019
Reeditado em 21/03/2023
Código do texto: T6626499
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