Memórias na lama
Nasci ali,
na encosta da pedreira,
nos fundos da fazenda do sô Zé.
Vim ao mundo
pelas mãos de uma parteira.
O tempo voa...
Não demorou muito
e eu já estava "de pé",
correndo pra todo lado,
brincando feliz
na plantação de café.
Sabe aquela inscrição,
no tronco da mangueira,
ao lado do coreto,
na pracinha do povoado,
com as nossas iniciais
gravadas em um coração,
pra gente se lembrar
do primeiro encontro
e da tamanha emoção!?
E aquele banquinho,
em que nos sentamos
sob a roseira florida,
juntos pela primeira vez,
falando sobre sonhos,
sobre a sua
e a minha vida!?
Naquela grama,
forrada com uma toalha,
fizemos um piquenique,
e era tarde de domingo.
À sombra de uma árvore,
chamada "Noivinha",
deitei-me e, atrevidamente,
recostei minha cabeça
ao seu colo...
Furtei-lhe um beijo,
e ali tudo começou.
Anos se passaram
e a nossa história
ainda não acabou.
Casamo-nos,
e deixamos de ser só dois...
Um filhinho você gerou.
Primeiro, balbuceou "papá";
"mamã", só disse depois.
Você se lembra
quando ele começou a andar,
e onde foi que ele deu
o primeiro passinho!?
Foi no alpendre
da nossa casinha,
quando viu passar o "Leco",
nosso coelhinho.
Ele queria pegá-lo
para brincar.
Eu risquei a data
lá na parede e
nunca apaguei.
Logo que cresceu,
estudou e começou
a trabalhar o nosso menino.
Não me canso
de lembrar dessas coisas!
Ah, vale muito a pena lembrar...
Ah, vale a pena rememorar...
Ah, vale...
Ah, Vale, cadê a mangueira!?
...cadê as iniciais!?
...cadê o coração gravado!?
...cadê o coreto!?
...cadê a pracinha!?
...cadê o povoado!?
...cadê o banquinho!?
...cadê a roseira florida!?
...cadê a grama!?
...cadê a "Noivinha"!?
...cadê o alpendre!?
...cadê a casinha!?
Ah, Vale, cadê o nosso menino!?