Tempos de Natal

Lembro-me da vésperas de Natal da minha infância. Tudo era tão mágico, tão bonito.esperávamos o ano inteiro por esse dia. Tudo começava com chegada do verão, onde pra quem vive em um lugar muito frio, a chegada do verão era realmente uma sensação exagerada de bem estar. Parecia que tudo ficava mais bonito, as cores, a cidade se movimentava, as noites tinham luzes e as ruas estavam lotadas. Havia pessoas que saiam apenas para caminhar na calçadas, parávamos para tomar sorvete. Flocos e chocolate era o meu preferido. A sorveteria era a La carte, você pedia, e a atendente lhe servia. Geralmente eu escolhia na casquinha, era tão bom comer sorvete na casquinha, por mais lambuja que se fazia. As roupas eram leves e podíamos andar descalças. Em algumas noites podia brincar na calcadas, enquanto todos os adultos conversam sentados em suas cadeiras na mesma calcadas. Havia vagalumes. Há a caçada por vagalumes era tão divertida.

Logo então,chegava o Natal. Sempre houveram os presentes. Mas, era diferente dos dias de hoje. Ainda acreditava-se na simbologia que ele transmitia. Lembrávamos de Jesus Cristo, Maria e José. Sabíamos que todos se reuniram, seja a meia a noite do dia 24 ou no almoço do dia 25. Nesse dia podíamos ficar mais perto dos nossos pais, e sabíamos que veríamos primos e parentes que há tempos não víamos. E como era gostoso reecontrá-los. As reuniões eram mais como uma confraternização, uma comemoração. O Papai Noel existia, para as crianças, era o bom velhinho. Sim, Papai Noel era nosso amigo. Representado por um homem gordinho de cabelos e barba branca, trazera consigo um saco, onde ali constava o presente; aquele presente que pedíamos desde que o ano começávamos, e tínhamos a certeza que o ganharíamos, principalmente se no comportasse bem durante o ano. Claro, que geralmente, esquia-me disso. Enfim, o sorriso, o sentimento, as relações, os costumes eram outros. Mas, eram bons.

Hoje ao acordar, cheguei na sacada, e senti o cheiro, um cheiro que para mim chama-se calor, verão, cores, alegria, logo lembrei de um poema de Casimiro de Abreu, o qual gostaria de citá-lo aqui:

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

— Pés descalços, braços nus

— Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu

Esse poema retrata um pouco da realidade sobre tempos de natal que lhes expus acima. Claro que os tempos mudaram, e não estou falando que pioram, não as mudanças que acontecem geralmente são boas. O crescimento geralmente acontece com as mudanças, principalmente as grandes. Quem vive essa mudança de gerações, muitas vezes, o difícil a adaptação. Sempre acharemos que no nosso tempo era melhor. E para alguns, poderia ser mesmo. Contudo, há situações que foram afastadas dos dias atuais. O espírito de Natal, não sei para as crianças, mas já não tem o mesmo aroma, o mesmo gosto.

Além de termos crescido e percebido que Papai Noel nunca existiu, e sabermos que se nos dias de hoje um “velhinho” de idade como figura Papai Noel, sem a mesma saúde e disposição que tinha aos 40 anos, jamais estaria pelas ruas carregando um saco pesado de brinquedo. Sabemos que não teria disposição para isso, se trabalhasse para alguém, essa pessoa sofreria um processo de maus tratos. Sabemos que vamos ver a família, isso pode até dar alegria, mas também sabemos que poderemos sofrer em sua companhia na comemoração de Natal.

Hoje não há presente por bom comportamento, e não mais se espera um ano por ele, se decide uma semana antes. Há cidades que nem são enfeitadas ou iluminadas com a magia do Natal. O comercio fica aberto, a espera de vender todo o seu estoque da loja. Pessoas compram, compram, compram. Tudo parece estar voltado para o dinheiro, pelo consumismo. Alguns nem se lembram do verdadeiro significado do Natal.

O Natal hoje quase não faz diferença de um ouro feriado qualquer. Notável apenas quando se vê o peru em cima da mesa. Pessoas estão brigando, pessoas estão se matando, a violência apequena o Pais, o povo está perdendo seus direitos, os políticos estão roubando e poucos estão na cadeia. Democracia já não existe mais. Segurança nenhuma. O que virou o natal? Deveria ser tempo de refletir.... tempo de dar amor e sentir amor. Deveria ser tempo de paz.

Não há comemoração de Natal para mim, enquanto olhos sangram, as mãos são cortadas e as pernas engessadas, de um povo sofrido, querendo apenas um pouco de paz e amor, enquanto do lado, vigora todas a corrupção e hipocrisia possível.

Tenha um problema grave e passará o Natal sozinho. Tenha dinheiro e riqueza que passará o Natal voltado de pessoas.

Não há porque esperar a meia noite de natal, para a troca dos presentes ou para comer a ceia. Se preservamos o sentido verdadeiro do dia 25 de dezembro, passando sozinho ou não, com comida ou não, teremos a paz e o amor, o mesmo que nos emocionava na nossa infância querida.

SILVIA F SOUSA
Enviado por SILVIA F SOUSA em 01/01/2019
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