RECORDAÇÕES PUERÍCIAS - AS VIAGENS
Meu pai era assim, no meio da noite resolvia o mundo correr.
Nos acordava, e dizia para nos arrumarmos, que sairíamos ao amanhecer.
A gente corria, lavava o rosto, comia algo, e ia para o fusca sem esmorecer.
E então, ele ia dirigindo até o mecânico, para pegá-lo, pois o carro podia morrer.
Um homem gordo, grande e cheio de graxa, de poucas palavras, que ia, sem nada dizer.
Meu pai dirigia, e o mecânico ia do lado, e o mundo ganhávamos, sem nos deter.
Íamos para o sertão, outras cidades próximas que nem podia imaginar conhecer.
Parávamos, fazíamos amizade, o povo sempre era hospitaleiro, com prazer.
Meu pai era bom de papo, e sempre conquistava, ligeiro, era de surpreender.
E mesmo com pouco dinheiro, nos divertíamos, e conhecíamos coisas, para valer.
Rodávamos todo o final de semana, e voltávamos domingo ao anoitecer.
Daquele tempo, guardo excelentes lembranças, que nunca irei esquecer.
Andava de cavalo, tomava banho de rio, e tudo o que mais eu podia fazer.
Subir em árvores, correr das cabras, e pegar poeira, até adormecer.
Comer coisas diferentes, ver os passarinhos cantar ao alvorecer.
Tantas paisagens, e gente boa, que para sempre no meu coração vão viver.
Aonde chegávamos éramos recebidos com delícias para valer.
O povo mandava a gente sentar, e adoravam ouvir o que meu pai ia dizer.
Ele contava piadas, e ria com muita alegria e encantava com seu jeito de entreter.
E assim, cruzamos campos, sertões e cidades, sempre tendo aonde adormecer.