DINHA
Dinha, uma negra mulher
Como nunca se via
Como nunca se havia
Como nunca se avia
E quem não a ouvia?
Assim era Dinha
A preta Maria, Maria preta
De Guilé e Sinhaninha
Feita, nos efeitos dos anos,
Nossa tia, nossa mãe e pai
Irmã e tudo sem um ai.
Templo do respeito, amor e paz
Dinha, sua roça, sua raça
Seu rádio, caipira e voraz.
Como era gostoso o "bacondê"
Ela ouvindo um cateretê
Dinha pisando no compasso
Seu roupão de brim
Seu olhar para mim
Suas mãos, seus calos
Estalos de alerta
Cigarro de palha
Um gato correndo no quintal
A espreguiçadeira num canto
E Dinha assoviando outro canto
Era mais um cateretê
Até chegar a Lyra do Xopotó.
Os anos passaram
Eu vim m'embora, ora
"Menino tem que crescer, vai"
E a " bença Dinha" não acabou
Hoje ela mora no Céu da nossa memória
Feliz a nos ralhar
E nós, que ficamos a passear
Pelas rugas e pelo tempo
Buscando a nossa noitinha
Amamos e sempre sentimos
O amor de Dinha.
Dinha, uma negra mulher
Como nunca se via
Como nunca se havia
Como nunca se avia
E quem não a ouvia?
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Salvador-BA, 19/11/18. Em memória de Dinha.