O POVO DE UM LUGAR

Olhe aquele areião

Lá um dia, houve uma construção

Houve junção

Existiu união

Ali naquele lugar

Mãos a trabalhar, corações a rezar

Ergueram um altar, em frente ao mar

Adiante, elevaram uma vila

Casas de barro, vida tranquila

Alimentos cultivados, bem conservados

Utensílios de argila, rústica mobília

Simples famílias, vivendo em vigília

Água das fontes, dos rios, dos montes

Assim, criaram costumes, tradições

Produziam festas, cantigas, orações

Ouviam poesias, tinham alegrias, diversões

Ignoravam a dor, o despeito, as descriminações

Ensinavam o valor, o respeito, as emoções

Até que um dia, chegaram os imigrantes

Com muito dinheiro, muito elegantes

Entraram sem licença, com total indiferença

Ignoraram os donos daquelas palhoças

Traçaram ruas onde havia roças

Edificaram mansões, muros altos, portões

Hoje, daquele lugar só resta o luar

Onde sob o asfalto da triste cidade

Jaz soterrada a valiosa identidade

E a cultura raiz de um povo feliz

Amanhã quem sabe... Talvez

Glorifiquem o lugar, com tristeza no olhar

Orem e chorem pela pura insensatez

Ricas lições para as futuras gerações

Apenas em museu, que triste apogeu...