RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM(À brilhante poetisa Maísa Silva)
Vez ou outra sou do contra-
Ponto, fuga em lá,
Si bemol se B mais.
Trago n'alma uma lontra,
Quero represa Igaratá,
Show inédito de jograis.
Conto com mirrada sabedoria,
Embora saiba amar T.S. Eliot,
O mar de Camões e de Pessoa.
Acendo velas à Virgem Maria
E até sorrio até a epiglote -
Uma sineta que ressoa !
Torci adoidado pela NASA,
Vibrei com o Lobo do Vigilante Rodoviário;
Li, aos prantos, a morte do Português
Em Meu Pé de Laranja Lima.
Nos circos e cines sentia-me em casa.
Decorei depressa todo abecedário,
Senti ternura pelos órfãos do Santa Inês,
Brinquei de médico com minha prima.
Tentei salvar do incêndio o joão- de- barro.
Compreendi o amor de Heathcliff.
Nunca pretendi possuir um carro,
Mas gosto duma roupa de grife...
Sou rebento d'O Feijão e O Sonho.
Acato olhar os lírios do campo.
Sou afeito ao Livro de Ruth,
Sempre pobre , e não me envergonho,
Inclusive amar as luzes de pirilampos.
Gostava de Rita no Tutti - Frutti.
Aleias floridas perfazem-me a vida,
As dores arderam feito cranco,
Mas curei-me em todas as feridas,
Sempre aguento o tranco.