RUI O MENINO DE BIBE
De pé descalço e bibe sem botão,
Lá ia eu contente jogar o peão,
Com meus amigos de Cabinda,
Momentos duma magia infinda.
Juntos íamos à baía tomar banho,
Na água quente mergulhávamos,
Tardes seguidas nós passávamos,
Saudades as que tenho de antanho.
As aulas eu não seguia, ignorava,
Tinha receio daquela palmatória,
De cinco olhos que eu apanhava
Tenho desse acto triste memória.
Deixei-me apaixonar por alguém,
Minha colega que me ignorava,
Muito sofria por não ter um sinal
Que eu desejava da minha amada.
Triste ficava quando o dia findava,
À noite era longa, de meus medos,
Sonhava com o cacumbi horrendo
Do qual eu nunca achava segredos.
Era assim a minha vida de menino,
Descalco, de bibe curto, sem botões,
Que levava a vida sempre a brincar,
Foi o melhor tempo que soube levar.
Ruy Serrano - 23.09.2018