A BELEZA, QUARTA DIMENSÃO

Nunca visitei Nova York.

Nova York não existe.

Ela é um ponto de luz

na foto escura do planeta,

um retrato de calendário,

o filme na tevê,

e minha palavra contra a tua,

que afirma conhecer a cidade

ter andado pela Quinta Avenida,

ter visto esquilos no Central Park.

(Nova York não existe.

Sua existência é substrato daquilo que concebo,

teias de aranha em cantos que asseio).

Na casa de praia no litoral da Bahia

reparo um Baiacu oculto nas pedras

e penso:

“O Baiacu existe!”

Se ele não estivesse na minha frente

não seria o peixe.

Seria uma ideia balão,

uma fotografia,

uma imagem no filme da tevê.

A cidade de Nova York não existe,

presumi que existia,

ludibriado pela luz

da imagem televisiva.

Isto foi antes de ver certa lua cheia,

- brilhava mais do que as luas

dos últimos 60 anos -

e pensar:

“O satélite não se incomoda com Manhattan,

com a Times Square

e ele se garantiu mais ainda

porque eu o descobri.

É outro baiacu luminoso

no oceano do universo"

Nova York não tem coberturas

não testemunho suas luzes.

Ela sobrenada uma nervura,

esconde-se atrás de pedras vaidosas,

mostra formas bizarras,

porque nada daquilo são ruas.

Se há transeuntes,

eles saem de um metrô

de estações aparentes.

DO LIVRO:"ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 22/09/2018
Reeditado em 22/10/2019
Código do texto: T6456311
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