Sobre as almas vazias.

Era quase que assim

Um leve tremor de terra

Prenuncia o apito do trem

Só que quase ninguém percebia

O sermão durante a missa

A igreja tão cheia

E quase ninguém ouvia

Quanto ao resto da vida

Não o sabe até hoje

Da secura na boca

Calma, aguda, iludida

Muda algia rói alma

Carece de companhia

Um tanto menos pernóstica

Só fantástica e desabrida

O contrário

Era um jeito de olhar o Céu

Enxergar nele a vida

Um tanto profunda

e de olhar esquecido

Quem lhe visse podia jurar

Era antes pequeno desejo

Jamais um pedido

A vida meio vazia

A outra metade era vida

No outro dia tanto faz

A semente bem regada

Cuidada por cuidar

Pois de lá não saia nada

Assim era tudo

Enfim, um saber calado

Um verso oculto

Cujo vulto do tempo

Escreveu apressado

Se está fora de lugar

O correto é cair

Equilíbrio é o silêncio que faz

A vidraça parecer escura

A paz que precede a chuva

Sempre que a chuva vem

A água evapora

A alma cura

Entretanto ela chora

Tempestade, água turva

A curva do rio, a lagoa

Fatalmente o ponteiro, a hora

Por ora, balaio no chão

Canta muda

A canção silenciosa

E somente o coração escuta

Roupa suja, varal

Ensaboa um sinal da vida

Outro aceno do mundo

Desalento um segundo

Quando meio segundo

é momento

A saber

Água limpa

Não lava alma turva

Acredite em não crer

O saber de cada receio

Escondido em gavetas

Espalhado pelo imenso mundo

Se contar nos dedos

A qualidade de tantos medos

Reais e de faz de conta

Um mais um, às vezes são dois

Mas, de vez em quando, não

É aí que mora a diferença

Entre pensar

E pensar que pensa

Olhar e saber na hora

Àquilo que vem

Sem demora.

Edson Ricardo Paiva.