A menina que fui
Denise Reis
A menina que fui ainda vai a igreja,
arrastando seu manto branco
pelas sarjetas recém varridas,
para confessar pecados ainda não cometidos.
A menina que fui ainda transita,
vestida de vigela bordada com rococós,
pelo florido canteiro central
da avenida que é rio.
E quando chove, são as dores infantis
que entopem bueiros e escorrem até a gare
para em linhas férreas , ferir poema.
A menina que fui brinca de esconde-esconde
entre os verdes morros que um dia
haverão de amadurecê-la.