HIDRA DE LERNA
Quem ainda menino,
da terra natal, um dia partiu,
carrega pra sempre, duro lembrar da infância perdida,
deixada distante, no dia tristonho,
da triste partida.
Quando se chega na cidade de pedra,
cercado de prédios gigantes por todos os lados,
como Hidra de Lerna olhando de cima gente pequena,
sem beleza aparente, nem beleza escondida, sem cantiga de pássaro,
nem luar prateado clareando na verde caatinga,
jurema florida.
Tudo é tão diferente!
A gente fica o tempo todo tentando juntar,
como copo quebrado, num canto da alma,
o sentido da vida.
A noite
também não renova a esperança,
para quem está distante da terra querida.
O Céu não tem estrelas! E as nuvens, pintadas de cinza!
Como quem tentando esconder de São Jorge, o santo guerreiro,
olhando de cima, a infelicidade dos homens
correndo na Terra, por todos os lados,
por ruas becos, como formigas.
Os anos, o tempo que passa,
na alma sofrida do menino crescido,
é apenas triste lamúria, de quem é vivo, para viver, ainda precisa;
resignado com tudo, compassivo como mundo, enternecido com a vida,
tentando, do peito tirar, a cada minuto,
inclemente ferida.