Meu santuário
No versar da história, cavaleiros corajosos carregavam para bem longe
os medos implantados pelos algozes e seus pesadelos de escuridão...
Corriam, desabalados, empunhando as espadas com que mataram os traumas.
Fadas quase invisíveis traziam seus bálsamos para cicatrizar
as abertas feridas da alma em dor e grito,
silencioso grito preso entre meus lábios.
Jardins impressionistas repletos de azaleias, girassóis, jasmins, madressilvas,
aromas curativos, unguentos restaurativos da violação das carnes.
Pequenos e delicados seres alados, tal borboletas diáfanas,
trançavam fibras de pequeninas alegrias
para coroar minha cabeça com uma tiara de sonhos...
No silêncio daquela biblioteca destruí meus medos
e forjei minha coragem para enfrentar o escuro mas também olhar a luz,
fulgurante e bela a me afrontar os olhos e me desafiar aos brilhos das estrelas...
As histórias me emprestavam as habilidades que eu não tinha
e me asseguravam que o bem estaria sempre acima do mal...
Os enredos embalavam os ideais cultivados em terras férteis,
vermelhas como o sangue correndo lépido rumo ao coração.
Os livros, ah, os livros!!! Segredavam ao olhar os encontros de vorazes desejos
ou de sutis e pudicas mãos apenas a resvalar os dedos...
Os livros abriam-se como flores,
insondáveis receptáculos de enigmas e códigos
com que escrevi as mensagens cifradas
que escondi entre as pedras preciosas
que meu pai lapidava e com que me presenteava,
em lotes, embaladas em cartolina branca e algodão...
Viajante, meu espírito portava ancestrais colares de proteção,
antigas relíquias a esconjurar errantes e tristes seres, saídos do nada...
A espada de raios, cingida imponentemente, atestava a nobreza e a pureza do coração...
No portal, despojava-me de minhas tantas armas e amuletos
para, do lado de fora, encontrar a mim mesma,
forte em fé e solidão, integridade e entendimento.
Meu santuário, onde aprendi a ser quem sou e a amar os poetas e seus poemas...
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De uma conversa que despertou lembranças...