A ÁRVORE DA MINHA VIDA
A minha árvore nasceu e cresceu em África,
Viçosa e de ramos bem verdes e resistentes,
Abrigava pássaros e dava apetitosos frutos,
Vivia do sol da manhã, do cacimbo da noite
Era o meu prazer de viver, minha companhia.
A minha árvore me deu coragem e inspiração
À sombra dos seus ramos construí minha vida,
Vasto património, fiz muitos e sinceros amigos,
Deu-me ânimo para suportar os meus inimigos.
Do agasalho dos seus ramos, nasceram então
Quatro rebentos, os meus filhos que cresceram.
E que por força do destino para Portugal vieram,
Contra minha vontade, dilacerando meu coração.
Transplantada para nova terra que a acolhera,
Os seus rebentos outros rebentos produziram,
Meus sete netos que ainda se abrigaram nela,
Até outras paragens acharem muito longe dela.
Meus netos levaram consigo alguns sãos ramos
Que me presentearam com seis lindos bisnetos,
Enquanto a abençoada árvore com o inverno,
Acabou por sucumbir, com bastante pena minha.
E assim uma árvore nasce e morre sem glória,
Depois de vida exemplar que fica na memória,
Percurso que deve ser seguido pelos homens
Nesta vida em que se tratam como lobisomens.
Ruy Serrano - 15.05.2018