Brisa da Manhã
Manhãzinha, bem cedo,
Por vezes ainda escuro,
Ela ia entrando pela janela,
Que já se fazia aberta
Par a par, àquela hora;
A espera, convidativa.
No outono vinha fresca,
Perfumada nos jasmineiros,
Varria o aposento, calma,
E escapava, nua, pelo corredor.
Por vezes não vinha,
E eu a esperava ansioso
Olhando da janela, desde
O canteirinho encostadiço
Até os mamoeiros altos,
Apinhadinhos e retos.
No inverno chegava gelada,
Banhada no orvalho matinal
Impregnada pelos narcisos e
Pelo vermelho das suínas.
Se não vinha bem cedo
(talvez dormisse ainda),
Restava, ao menos (consolo)
O prolongamento do sono,
Provocando breves sonhos,
Voantes e ligeiros.
Na primavera era buliçosa.
Com o perfume das gardênias
Inspirava amores novos ou
Fazia recordar os antigos.
E como era bom senti-la.
Ser por ela envolvido e
Arrastado para os cúmulos
(Algodões longínquos),
Flutuando desprendido
Pelo azul sereno da manhã.
No verão, quando aparecia,
Vinha morna e preguiçosa;
Indolente hálito doce
Das rosálias floridas.
(Versos Livres, in Revelações)