Carta para o meu “eu” de 19 anos
Menina dona da pele cor de jambo
estás no auge dos seus 19 anos.
Mal sabes tu que em breve se encontrará
com aquela alma que a dor há de te apresentar...
É neste momento da vida em que você tem acesso
a todo o mal causado pelo excesso
da superproteção de seus pais incertos.
Mas não os culpe
até porque eles só querem te ver uma mulher de sucesso.
[…]
Descobriu naquela alma o amor e a dor. Juntos. Presos num só ofurô.
Sente-se sabotada. Amargurada. Indesejada. Calejada.
Desperta em ti o ódio. Se consome em tesão e ódio. Tesódio.
Procura em outros corpos, copos, e episódios
uma dose de amor próprio.
Perde-se.
Esquece-se.
Entristece-se.
Enfraquece-se.
Os meses passam.
A autosuficiência chega.
A dor te diz: “me esqueça”
e a beleza finalmente te presenteia.
Tem a impressão de que agora o mundo é menos cruel.
Mentira.
Ele continua fazendo de seu corpo um aluguel.
[…]
E vem Camila
aquela doce alma de menina
que você insistiu em fazer covardia
e mesmo assim, não fraquejava e pedia
por teu amor noite e dia
Pobre Camila
se eu soubesse que meu amor te traria toda aquela picardia
jamais teria saído de casa naquela noite fria.
[…]
Eis que agora você sabe, que de nada vale passar para a frente toda dor, mas sim o amor. Só este é capaz de curar. De ajeitar. De abraçar. De provocar. De chamar e acalmar.
Alessandra, nunca se esqueça de você da mesma forma que eu me esqueci aqueles anos.
Peço-te perdão por todas as situações em que a coloquei.
Por todas as vezes que te deixei
e por todos os momentos em que a desprezei.
Você merece o mundo.
Merece realizar todas aquelas viagens e aqueles sonhos.
Você há de encontrar uma alma que não te deixará após os 3 meses.
Se deliciará com um melhor amigo que mais parece um anjo caído dos céus.
Encontrará muita maldade ainda na humanidade.
Mas persistirá.
Porque apesar dos pesares, a estrada vai além do que se vê.
Sua fé quase há de te perder.
Mas não se desespere, pois Nele
tu ainda há de crer.
A.G.
30/3/18