ARMÁRIO DO PASSADO
Vou reformar meu armário
Lançar fora o que me é inútil
Desde meus velhos sapatos
A uns casacos sem uso.
Mas, ficarei de pés descalços?
E na época gélida congelarei?
Acho que posso manter meus sapatos
E os casacos que nunca usei.
Ainda tem umas velhas lembranças
Cartas de amigos, convites,
Fotos minhas de quando criança
E de momentos que não mais existem.
Contudo, devo esquecer que tive infância?
E o que terei de meus grandes amigos?
Acho que os convites, as cartas e as lembranças
Eu posso manter ainda comigo.
Ainda resta uns discos de vinil,
Que eram tocados aqui em casa,
Um vidro de perfume já vazio
E livros com páginas rasgadas.
Mas, que me restará para colecionar
Senão frascos vazios e velhos discos?
Quanto aos livros velhos, a definhar
Não são, acaso, os velhos os mais lidos?
Visto que, de tudo o que havia no armário
Nada foi retirado, tudo preservei
Resta somente um apego ao passado
Que foi o pior trapo que guardei.