Infinito azul (no começo)

O poema abaixo pertence à antologia poética Asas de Anjo, parte do projeto Simplesmente Tita, disponível para leitura na plataforma Wattpad.

No começo não havia indiferença, não havia nada.

Apenas você e eu sem sabermos que seríamos nós.

Não existia suposição nem agitação.

O vento soprava para o norte e os meus sonhos eram outros.

Eu não perdia tanto tempo pensando nas coisas além do que podia ver.

Eu tinha medo de não encontrar o caminho de casa.

No começo era o nada querendo ser tudo.

O orgulho sobrepujando as especulações.

Um olhar profundo e dirigido ao infinito azul.

A você que também não queria me enxergar.

Um brinde à nossa ignorância.

Minha, sobretudo.

Sua, acima de tudo.

Podemos compartilhar nossos desatinos e fazer alguma coisa útil com eles.

Repensar.

Realinhar o foco.

Realocar o intento.

Refazer o trajeto.

Reviver o efêmero.

No começo eu me entretinha perseguindo bolhas de sabão.

Elas estouravam no ar sem me dar atenção.

Eu assoprava como se cantasse para o vento me escutar.

Nem em mil anos eu esperava te encontrar.

Era janeiro ainda, você também se lembra...

As voltas que a vida dá para juntar dois corações são inacreditáveis.

O vento sempre teve vontade própria.

Eu nunca gostei de surpresas.

Nunca gostei de nada que me tirasse do lugar.

No começo não havia frio na barriga nem perguntas sem respostas.

Você sempre escutava a mesma música.

Pelas entrelinhas era um artifício para me chamar?

Ou você apenas escutava para em nada pensar?

Tentar não pensar em nada.

Esvaziar a mente até não caber uma agulha no pensamento.

Não pensar na vontade de pensar.

Não pensar em nada nem ninguém.

Não pensar em pensar.

No começo eu não escutava muito bem.

Nada além do meu próprio querer.

Meu desejo era ser uma andorinha para voar até me perder no infinito azul.

Nasci sem asas, então queria apenas ser feliz.

E parecia caro demais para ser um bom presente.

Porque felicidade é contexto, eu é que nunca me liguei.

Aquele verão era o último da inocência.

Ela merecia um tributo porque dela me resta muito pouco.

No começo eu era o que não era.

Turista de um ciclo rumando para o fim.

E você?

De que lado estava da ponte?

Caminhando na frente sem medo dos tropeços ou rindo dos meus?

Às vezes a sua estrutura firme me despertava a gana da cobiça.

Eu sempre fui tão frágil e por isso mesmo um perigo iminente.

O choro engolido num canto do meu quarto.

Nunca soube ser uma rocha.

No começo não havia poesia, por decreto proibida.

Todo e qualquer tipo de manifesto tendencioso.

Verbalizar o pecado me condenava ao inferno do desejo constante.

Se o começo existisse com a mesma linearidade da matemática...

Você sempre foi afeito aos números, eu sempre me busquei nessa intrigante sopa de letrinhas.

No começo o gostar era a perdição.

O fim de uma estranha segregação.

A queda abrupta da dignidade.

Fragilizada e rastejante.

Tudo, menos você.

Mil metros me afastar para te descobrir em mim, enfim...

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 01/11/2017
Reeditado em 01/11/2017
Código do texto: T6159401
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