Boi Fumaça
De olhos negros e medonhos
E chifres qual harpa
Harpa que tocaria o demônio
Naquela tarde ensolarada
Seria por somente pura maldade
Que Boi Fumaça vil
Fora trazido àquela comunidade
Ou por outras trapaças mil?
Nada mais me valeu naquele
Instante que criatura
Pôs-se no meu calmo alqueire
Bufando a própria amargura
A galope busquei esconderijo
De facínora Fumaça
E de olhos noturnos tão rijos
Não esperei sequer ameaça
Boi maldito que me entrara
Quebrando madeira,
Ferro e pedra, que algazarra!
De Boi Fumaça, boi fuleira
Pedi ajuda a todos os santos
Fumaça me vinha
Quebrado, da casa, todos os cantos
Nem mais mobília tinha
Encurralado entre o chifre a cruz
Pendurada na parede
Implorei ajuda ao menino Jesus
Para que força me concedesse
Veio Fumaça implacável e feroz
Em tamanha investida
Escutei, então, uma sonora voz
Pula e liberta a tua força contida
Obedecendo caí no lombo do animal
Que tentou me expulsar
Segurei nos chifres de modo a qual
Não poderia jamais os soltar
O boi pulava como se lhe apertassem
As partes íntimas
E eu sacudia naquele impasse em
Que a essa altura haveria vítimas
Fumaça foi ficando muito cansado
Teimou a só andar
E eu igualmente sôfrego e cansado
Quase não conseguia me segurar
Em pulos de repentes ele quase consegue
Fumaça, me derrubar
E diminuindo a pulos mais leves
Até ele totalmente se deitar
Eu o encaro nos negros olhos
E não mias havia
Maldade alguma aqueles olhos
Boi Fumaça finalmente se cansaria
Com muito custo ele se levantou
Olhou-me com respeito
E andando lentamente soluçou
Um mugido de singelo respeito
Fumaça se foi para nunca mais
Àquele lugar voltar
E o que me mais me satisfaz
É saber que o pude enfrentar.