O ÁLBUM

Acordo

e prontamente lembro

todos os mortos.

Refaço o álbum pela manhã

e todos estão presentes;

os mesmos rostos

distorcem a minha mente.

Não entendo a coleção

e a guarda impecável.

Vêm de longe

meus pais em fotos sumidas

(Um flash dentro de mim separa o instante,

pergunta por esses pais

e porque permanecem unidos)

Mas há outros corpos nesse maço de imagens,

repetem uma cena remota,

um aceno, enquanto eu confio

que tudo se ajusta.

Os amigos, o amigo louco

a namorada santa

e quando me perco, lembro da outra,

jurava ser santa,

e abria os peitos formosos

para o encaixe fotográfico.

Dentro de mim tudo é permanência.

Durmo.

Agora os mortos

caem de forma contínua,

descem como chuva,

surgem perto de cachoeiras

não percebem a própria eternidade.

Acordo

refaço o longo álbum

todos estão ali,

do outro lado,

eles me olham,

piscam,

pisam na faixa de pedestres,

sempre aos pedaços

como pedestres.

Os olhares procuram um sentido,

estão nas beiradas

nos cantos,

parecem aliviados.

Nascidos para brilhar

e brilham!

DO LIVRO: "ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 19/08/2017
Reeditado em 03/08/2020
Código do texto: T6088270
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