A MINHA ÂNCORA
Lancei a minha âncora num porto de abrigo,
Deixei o meu barco numa baía, escondido,
Não fosse descoberto e depois afundado,
Para não mais por mim poder ser utilizado.
Esse barco veio vazio, sem bens materiais,
Apenas trouxe a minha família e memórias
Que guardo, por serem documentos reais.
Tudo o que ficou para traz são só histórias.
Histórias que me custa recordar, tão cruéis
Como se fossem contadas pelos coronéis
Que mandaram fuzilar tanta gente inocente,
Naqueles dias negros da pré-independência.
Tão depressa não irei levantar essa âncora
Do meu barco, por não haver outro destino,
Vou guardar o pouco que me resta no canto
Dum sítio mui secreto, só por mim conhecido.
Ruy Serrano - 18.07.2017