Águas Fluentes
Foram-se de mim as lembranças,
Deixaram-se levar pelo tempo.
A sós estou depois da partida:
Esqueci-me das grandes e fortuitas alegrias,
Já as lágrimas ocupam o lugar
Que antes fora só quimera e utopia.
Hoje os rios que correm em meu caminho
Não sei se vão ao mar,
Correm sem ribanceiras
A impor paradas breves;
Só há quedas como em grandes cachoeiras,
Há nuvens de tempestade em suas cabeceiras.
Deixai Senhor, que corram essas águas,
E venham banhar em meus rios
Vívidas e inesgotáveis fontes
De pureza cristalina.
Deixai que volte a inocência
E reine ainda nessas margens:
O brilho infantil no olhar!
Para que não se corrompa
A vida em nenhum momento,
Deixai ir a hipocrisia,
Deixai ir o medo se afogar no mar!