A NOITE.

A noite se faz alta,

A escuridão enlaçou o dia,

O engoliu aos poucos sem ele perceber,

A noite traiçoeira noite,

Que traz ao pensamento as lembranças,

Que traz ao coração deseperanças,

Que traz na alma angústia sem fim,

A noite veio surrupiar o dia,

Roubou-lhe a alegria da luz,

Tirou-lhe o aconchego do calor,

Soprou seu vento frio do ártico,

Soprou suas quimeras adormecidas,

Soprou as suas feras adormecidas,

A noite trouxe consigo o medo,

A noite trouxe consigo a prisão,

A noite serrou todas as portas,

Tememos o que não vemos,

O que não vemos é perigoso,

A noite veio para atormentar,

E por ela somos levados ao suplício,

E por ela somos castigados,

A noite é cruel e impiedosa,

Sempre com surpresas desagradáveis,

Sem dizer nos seres noctambulos,

Que camuflam de escuridão,

Seres diabólicos e sem almas,

A roubar-nos na nossa distração,

Seres sem alma e sem coração,

A noite demorou a passar.

A noite retornou sem avisar,

Sem ao menos ser anunciada,

A noite veio roubar minha alegria,

E o meu contentamento se desfez,

A noite é esse monstro de outrora,

A noite que desponta e desabrocha,

O sol com ela não se importa,

Apenas vira sua face para ela passar,

A noite não me quer bem,

Dessa vez ela trouxe pesadelos,

Ela trouxe modelos diferentes de medo,

Aterrorizou-me na lentidão do relógio,

A cada badalada meu coração disparava,

A noite continuou ali,

Continuou imóvel,

Continuou a me olhar friamente,

A noite me assusta com suas vestes,

Vestes negras parecidas com a morte,

A noite traiçoeira surrupiou-me,

Levou de mim passos tranquilos,

Levou de mim todas as certezas,

E as incertezas que restaram,

São feitas de medo e de escuridão,

Impiedosa noite que não passa,

Escuridão que se detém na esquina,

Escuridão que apareceu de repente,

De arma em punho,

Trazendo consigo a morte,

Com vestes longas e negras.

Talvez um a noite se desfaça,

Talvez um dia o medo se disfarça,

Talvez um dia tudo seja uma farsa,

Talvez um dia não sentiremos medo,

Talvez um dia a luz vença a noite,

Talvez nesse glorioso dia,

O sol volte a face ao passar da noite,

E assim não teremos mais medo,

Nossa mente produz a incerteza,

É o que dizem por aí,

Mas eu não creio, me fiz cético,

A noite é uma certeza escurecida,

O medo é uma ilusão sem luz,

Os fantasmas são produtos do olhar,

Da visão distorcida pela noite escura,

Eles estão todos presentes,

Eles estão todos ausentes,

É a noite que determina o teor do medo,

Mesmo sabendo que tudo é passageiro,

Mesmo sabendo que nada é real,

A noite traiçoeira faz tudo modificar,

Ela torna o irreal real,

E seus braços escuros revelam segredos,

A noite tem os seus comparsas,

Os seus capangas em carros escuros,

Procurando suas vítimas nas esquinas,

De armas em punho,

Trazendo no coração a morte,

A noite não é confiável,

Ela sempre retorna, é inevitável.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 23/05/2017
Código do texto: T6006812
Classificação de conteúdo: seguro