FUTURO DO PRETÉRITO

Poeta, ser de incomensurável sensibilidade.

Dom que em mim não se fez grassar

Todas as minhas poesias transbordam de inesgotável ausência amarga

Transpassam pelo meu tronco cerebral

Fogo que se encerra em meus ossos

Dor que se renovam a cada vinte e quatro horas

Selvagem, predadora e voraz!

Mastiga minhas entranhas

Arranham meu globo ocular

Zumbem nos meus tímpanos

Comprimem meu córtex

São mais esmagadores que a gravidade mil vezes um milhão

É fonte criadora, molda e imprime sua vontade, além de mim

Não tenho escolha ou desejo, apenas escrevo o que me é imposto

Rio perene de insaciável correnteza veloz.

Grama que cresce suave e inexoravelmente

Desculpem-me, desculpem-me meus queridos que pela poesia foram escolhidos!

Estou aqui por obra de infortúnio atroz

Deixa-me ficar na última cadeira reservada aos últimos da classe

Ignorado pelos ventos, onde o sol não ilumina e a fragrância das flores perdeu seu perfume

Peço apenas que tenha um fresta para eu olhar o mar e suas procelas

Cela reservada a condenados de alta periculosidade

Não ouço vozes, me contento com o silêncio das dores do inverno

Ah! Quem dera-me chegar ao majestoso verão, sem o algoz no meu calcanhar

Poder engordar no inverso e sorrir as gargalhadas das flores na primavera

Foram-me reservados as noites cinza, os nevoeiros traiçoeiros e o negrume abissal do mar

Ah! Quem me dera eu ser poeta e com palavras doces e cândidas poder me esvaziar!

Então, usar a escrita para retornar ao princípio

E o futuro do pretérito poder mudar!

jjjjay
Enviado por jjjjay em 06/04/2017
Reeditado em 22/07/2022
Código do texto: T5963550
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