Um filme de nossas vidas
Uma gaita de folie corta o silêncio da tarde,
parece parar o tempo na beirada da solidão,
recordação de teus sorrisos e palavras de amor,
eu não enlouqueci, o que vivemos foi real,
talvez eu esteja apenas saudoso de nós dois,
digitando poesias desconexas nesse sábado,
olhando para meu reflexo na tela do computador,
minha barba por fazer já com fios brancos,
tentando lembrar de quem eu era há oito anos atrás,
um garoto, um homem, alguém perdido em si mesmo,
hoje já perdoado pelo intrépido destino,
ainda olho para a lua cheia com perguntas nos lábios:
Por onde estarás agora nesta grande metrópole?
Vejo da janela os carros e o movimento apressado das ruas,
ainda terás residência na Bela Vista?
Lembrarás de nossas conversas ao sabor das noites?
Quanto passado carregamos em nossos ombros?
Quantas insanidades superadas para conseguirmos sobreviver?
Tateando no escuro de nós mesmos para achar o final do túnel,
mesmo que a luz nos cegasse e nos separasse,
fizemos o que era possível para continuar,
o que era necessário para não olhar para trás,
mas algumas vezes, quando as memórias batem à porta,
o vento da experiência revive o filme de nossoas vidas,
no sussurro de tempos outrora esquecidos,
e eu sei que eu não enloqueci, o que vivemos existiu,
talvez seja apenas minha veia romântica vestindo-se de pieguice,
nostalgia de uma melancolia familiar aos meus escritos,
delírios de um copo de martini sobre a mesa,
fazendo um pedido para uma estrela cadente ilusória,
e esperando o raiar de um novo dia sem tua presença...