Brincar de Esconder
Menino ainda, moleque inquieto
Dos folguedos gostava da infância
“Doente é menino, parado, quieto,
Frangote do bom tem muita ânsia!”
Essas e outras escutava o dia todo
De minha mamãe por demais querida
Que peneirava e me passava o rodo
Se eu fizesse alguma coisa atrevida
Brincava comigo quase o dia inteiro
Sempre com seu jeitinho maroto
Ela não tinha nenhum companheiro
Eu carecia da presença d’outro garoto
Uma brincadeira que gostava bastante
Um procurando o outro, dentro de casa
Ou no quintal ou na campina verdejante
Um se escondia, outro procurava à rasa
Assim que eu chegava da minha escola
Pegava logo mamãe e a puxava a valer
Ou eu ficava o tempo todo em sua cola
Até ela vir brincar comigo de esconder
Até eu um dia, chorosas, vieram vizinhas
Trancaram-me no quarto logo a me isolar
Ao perguntar pela minha amada mãezinha
Todas elas disseram: no céu foi passear...
Soube depois, que de um grave acidente
Ela não agüentou e veio logo a sucumbir
Quando ao puxar água num balde pendente
Não suportou o peso, na cacimba veio cair
Atualmente me lembro e logo fito o céu
Vendo as estrelas todas querendo acender
E grito forte, minha voz ecoando ao léu:
“Vem, mamãe, vamos brincar de esconder!”