Brincar de Esconder

Menino ainda, moleque inquieto

Dos folguedos gostava da infância

“Doente é menino, parado, quieto,

Frangote do bom tem muita ânsia!”

Essas e outras escutava o dia todo

De minha mamãe por demais querida

Que peneirava e me passava o rodo

Se eu fizesse alguma coisa atrevida

Brincava comigo quase o dia inteiro

Sempre com seu jeitinho maroto

Ela não tinha nenhum companheiro

Eu carecia da presença d’outro garoto

Uma brincadeira que gostava bastante

Um procurando o outro, dentro de casa

Ou no quintal ou na campina verdejante

Um se escondia, outro procurava à rasa

Assim que eu chegava da minha escola

Pegava logo mamãe e a puxava a valer

Ou eu ficava o tempo todo em sua cola

Até ela vir brincar comigo de esconder

Até eu um dia, chorosas, vieram vizinhas

Trancaram-me no quarto logo a me isolar

Ao perguntar pela minha amada mãezinha

Todas elas disseram: no céu foi passear...

Soube depois, que de um grave acidente

Ela não agüentou e veio logo a sucumbir

Quando ao puxar água num balde pendente

Não suportou o peso, na cacimba veio cair

Atualmente me lembro e logo fito o céu

Vendo as estrelas todas querendo acender

E grito forte, minha voz ecoando ao léu:

“Vem, mamãe, vamos brincar de esconder!”

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 15/09/2016
Código do texto: T5761496
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