Habitando Reticências
Habitando reticências
Em frente à cristaleira
Retirem-se todos os panos
Que hoje não há tempestade
Só viagem ao cerne da infância
No navio do pensamento
À cidade de bicos e bojos
Licoreiras de esmerada feitura
Castelos tolos de areia
A uma sala de espelhos
Cidade toda de vidro
Lá dentro o mundo se inventa
E ela faz a sua parte
E adivinha quem é ela
Sua imagem verdadeira
Se há milhares dela lá dentro
Escondendo-se feito criança
Em intrincadas galerias
Fugindo pela esquina
Mas eu te pego na volta
E pegou mesmo a danada
Vendo-se de muitas maneiras
Viajando de modos diversos
Do começo ao fim dos tempos
Sem precisar movimento
Imóvel na frente do móvel
Se encanta com o pique-pega
Grita estátua acabada
E com ele viaja ao passado
Comerão dos mesmos mimos
Da compoteira verde-figo
Onde a avó armazenava
Docinhos de chocolate.