Medo na Infância

Estava eu andando com minha tia

Lembro que fazia calor naquele dia

Era só alegria

Ela então começou a contar uma história que ouvira

"Imaginação de alguém", é assim que eu definiria

Mas, na época, das histórias da tia medo eu tinha

Mas também que quem não iria?

No cemitério há assombração

E se na minha casa houvesse uma na escuridão?

Imaginem quando eu ficava sozinho então

As três da manhã olhar para o espelho com uma vela na mão?

Claro que não

"Cuidado com a loira do banheiro"

Diziam que ela aparecia para o menino encrenqueiro

Que "matava a aula", o bagunceiro

No banheiro, com a luz acesa, não olho para o espelho

E se acabar enxergando um outro sujeito?

O pé eu meto

Irei correr mais rápido que o próprio vento

Debaixo de mil cobertores, me deito

Na minha mente esse é o jeito.

Uma lenda urbana

Cuidado por onde anda

Tenho medo daquela dona de branco

Passeando nos trilhos abandonados

Vários avistamentos foram relatados

Não quero ter meus passos seguidos por ela

Dizem até que ela segura uma vela

Dizem ser uma pequena velha

Sim, tenho medo dela.

O engraçado é que meu pai não acredita

O engraçado é que meu pai duvida

Crer não haver nada depois da vida

"A morte é o fim", ele sempre dita

Debaixo da cama ele não espia

A maneira como ele me ensinou

A maneira como me educou

Me lembro agora o que, uma vez, ele me falou

"Não há nada há temer, durma"

Eu ficava acordado durante a madrugada

Sem nada a falar

Pois sabia que meu pai iria acordar

Sabia que ele iria me xingar

Eu era uma criança

Isto ocorreria na minha infância

Da cama a porta, aquela distância

"Ah alguém em pé me observando", eu pensava

E se realmente houvesse?

Deixei como estava.

E se existir algo na escuridão?

Algo invisível em nossa visão?

Que não faça sentido, razão

Pensar estar sendo observado

Mesmo que não tenha ninguém ao seu lado

Isso me gera um certo medo, já falo

Mas as três da manhã, me calo

E meus olhos são fechados

E só abrem com os tijolos do meu quarto

Sendo iluminados

Pelo Sol que espanta os visitantes da noite.