ODE À FEIRA DE SANTANA
(...à minha mãe, Ana Bahia Menezes, à Maria Auxiliadora Azevedo, e ao escritor e poeta Raymundo Luiz Lopes;
bem como ao Dr. Dival Pitombo, ao Padre Renato Galvão
e Dr. Joel Derivaldo de Almeida – in memoriam
TADEU BAHIA – Autor, em 19. Julho de 1995.
Feira de Santana
Onde a gente anda por ruas largas
E possantes avenidas
Com os seus carros velozes
Cheias de semáforos nervosos
Embora a natureza da cidade
Em si, seja tranquila...
Feira de Santana
Lugar onde aportou o progresso
Onde qualquer comerciante, por mais pobre,
E fodido que seja – desde que honesto
Trabalhando com perseverança
Em pouco mais de um ano
Já consegue estabelecer
O seu comércio...
Feira de Santana
Com as festas da Igreja Matriz
Onde passei a minha mocidade
Nas suas tardes longínquas
E ensolaradas de festas,
Com tambores rufando, matracas batendo,
Batucadas tocando e surdos gemendo
Na cadência monótona da sua procissão...
Feira de Santana
E a Rua Sales Barbosa
Onde passam as meninas mais gostosas
Envoltas em carnes, em viço e em sonhos!
Rua Sales Barbosa e o seu comércio
Alegre e fulgurante
Com os seus guarda-sóis imensos
De cores faiscantes
Do povo que vende de muambas
No Feiraguai e a cada instante
Consegue burlar a fiscalização;
Rua Sales Barbosa – artéria febril –
Onde pulsa o próprio coração da cidade
Onde tem a Barbearia do Patricinho
Que envolve a todos com a sua grande amizade...
Feira de Santana
E as suas manhãs frias e orvalhadas
Na sua neblina densa, às vezes tênue,
Cobrindo as casas
Com o papel celofane dos sonhos!
Feira de Santana e os seus becos,
Inúmeros becos e vielas
Onde encontramos prostitutas,
Advogados e consertadores de relógios,
Onde os homens e as mulheres encontram-se.
Nas horas mornas do ócio
E ali, na penumbra das tardes,
Fazem amor sobre os colchões de palha
Encardidos...
Feira de Santana, às noites,
Véu negro e diáfano do perigo
Quando carros de terras estranhas
Cortam as suas ruas solitárias
Indo para lugares desconhecidos
Do sertão,
O ruído dos motores cansados
E vagarosos
Dos seus caminhões de carga
Transportando o progresso
Roncando com as suas descargas
Sacudindo-nos na hora gostosa
E aconchegante dos sonhos!...
Feira de Santana
E a sua Estação Rodoviária
Autêntico Museu de Arte e Cultura a céu aberto
Onde, nos seus ladrilhos,
Conta das histórias e das glórias
Dos homens valentes
Que palmilharam e se fixaram
No seu chão...
Lucas da Feira – herói de guerra –
Antônio Conselheiro – herói do sertão –
Peitos unidos e entrelaçados na força bruta
O primeiro, no braço – o segundo, no Espírito –
Tentando com os seus artifícios
Moldar os pensamentos e condutas
Dos homens simples do sertão...
Feira de Santana
Do saudoso prefeito-amigo Colbert Martins,
Do velho colega do Prof. Raimundo Azevedo,
Do inesquecível mestre Padre Renato Galvão
Do acadêmico e conselheiro Dival Pitombo
Que foi presidente da Academia Feirense de Letras
Nos idos da década iluminada de 1980;
Da música sertaneja e romântica
Do amigo e irmão Carlos Pitta
Que junto com o escritor e poeta
Luiz Ademir Souza
As tintas da Arte e da Poesia
Nas suas músicas e escritos pintam!
O amigo moreno Paulo Noberto no bar Balcão de Vidros
E as nossas serestas maravilhosas
Quando o amigo Luiz Galvão aparecia
Com os seus versos e a sua música
Tirando da letargia
As noites frias da cidade...
Galvão, dos Novos Baianos,
Tirava das nossas pálpebras, o sono,
Embalando-nos com canções tropicalistas
Regadas a cervejas e a batidas de limão,
Galvão, engenheiro agrônomo, compositor,
O eterno e terno trovador
Das terras da minha querida Juazeiro
Onde o Rio São Francisco passa altaneiro
A fim de encontrar-se com o mar...
Feira de Santana
E as minhas paixões juvenis
Maria Auxiliadora Azevedo
Poço fecundo de inteligência e desejos,
Abundante em carnes, e sorrisos tristonhos,
Nos olhos apertadinhos
E no peito um coração daquele tamanho!
Maria Auxiliadora e a sua puberdade
Maria Auxiliadora e a sua adolescência
Maria Auxiliadora e a nossa mocidade
Escorrendo das nossas próprias mãos
Como a areia entre os dedos,
Desfazendo-nos uma possível união
Mas preservando os nossos segredos!
Feira de Santana
Dos crepúsculos lindos
Portais dourados que antecedem as noites
Quando a natureza escurece e o meu coração padece
E quedo-me a escrever versos...
Louvando a Maria Auxiliadora Azevedo, tão doce...
Crepúsculo que banha de ouro
Os céus vespertinos para os lados da Igreja Matriz
Desfazendo-se em púrpuras, lilases e azuis,
Cores da nossa tristeza em tons sutis...
Maria Auxiliadora Azevedo
E a sua tela pintada ao crepúsculo
Na década de 1970... plenitude de amarelos,
Rubros e dourados
Símbolos da nossa passada adolescência,
Mácula nostálgica de um passado
De carinhos
Em que os nossos corações
Borbulhavam felicidades
Por todos os caminhos...
Feira de Santana
Hoje, com os meus 43 anos de idade,
Década da maturidade em que as saudades
Enfeitam as nossas almas
Com decadentes pétalas murchas
Adornando os velhos ombros, hoje arqueados;
Ontem à noite eu vi Mara,
Quando você me mostrou
Os seus cabelos esbranquiçados
Pela tinta incessante do tempo,
Todavia, e até o momento,
Não padeço ainda de sequer um fio
De cabelo branco!
Os meus cabelos negros e rebeldes
Continuam negros e rebeldes
Se bem que às vezes domados no pente,
Embora um início de calvície
Ameace-me ao longe, não a estranho,
E estou aqui com os meus olhos verdes de outrora
Que olham e lhe possuem agora
Com a mesma febre dos desejos antigos
Nunca proibidos!
Ah!... Maria Auxiliadora
POR QUE NÃO CASAMOS?
Dócil e vespertina cantiga:
Mãos brancas, em concha, e quentes,
A minha grande e inesquecível amiga
A quem sempre confiei e confio os meus segredos
Mais prementes!
Feira de Santana
Na minha recordação eterna
Quando ia para a casa da Maria
Em dias de domingos e feriados
E ali passávamos as manhãs
Tirando fotografias e conversando fiado,
Ao meio-dia almoçávamos cozido, depois, o café,
Em seguida aquele bate-papo sonolento
E leve
Enquanto o Sr. Pedrinho Azevedo
Tirava o seu cochilo breve
E a Da. Pequena orientava as empregadas
Na limpeza das panelas
Ou na distribuição da sobremesa
E num rápido instante
Estava desfeita a mesa
Mas todos permaneciam sentados:
O Sr. Pedro, Da. Pequena, Da, Santinha,
Maria Auxiliadora, Verônica e Toinho,
Tuna, Pedrinho e Ana Emília,
Todos reunidos numa só Família
Enquanto os meus olhos verdes
Perdiam-se nos seus, Maria...
Feira de Santana
Só agora à você eu abro o meu peito
Ainda meio escabreado, um pouco tolo,
Esquálido e sem jeito
Dou vazão aos sentimentos
Que me vêm n’Alma...
Por isso desço a Ava. Senhor dos Passos,
Procedente da Rua Sales Barbosa via Mercado Popular,
Onde os muambeiros e marreteiros agitam-se
Em meio a rádios de pilha e televisores vagabundos
Oriundos das esquinas do Feiraguai,
E eu entre relógios de pulso e de parede,
Carrinhos eletrônicos, panelas ditas inox,
Vejo a população pobre que vai matando a sua sede
Na dócil ilusão de estar comprando o melhor...
No interior do Mercado de Arte Popular assistimos
Uma miscelânea de ofertas
Desde rádios-gravadores e garrafas de whisck baratas,
Redes multicoloridas, imagens de santos articuladas,
Pinturas berrantes parecendo telas gritantes
Do velho amigo, poeta e pintor Nailson Chaves,
Cobertas grossas de inverno e capotes pesados,
Vendidos paradoxalmente numa terra
Onde o comum é um calor dos infernos!
Feira de Santana
E saio do cruzamento da Ava. Senhor dos Passos
Com a Ava. Presidente Vargas,
Com o seu tráfego intenso, o seu trânsito caótico,
As suas meninas de pernas e coxas bem feitas
E o diabo é que quaisquer umas delas
Deixam-lhe paranoico!
E eis-me em frente ao prédio neoclássico
Da Prefeitura Municipal de Feira de Santana
Que teve a sua construção iniciada no ano de 1921
Pelo coronel e intendente Bernardino da Silva Bahia,
Um dos monumentos arquitetônicos da cidade
Onde na época da Ditadura Militar de 1964
Ouvíamos com palavras vestidas de verdades
Os históricos comícios do Chico Pinto
Em favor da Democracia Brasileira!
Hoje a Ditadura acabou
E dos lábios da maioria dos políticos
Só ouvimos besteiras...
“_O MDB deixou de ser MDM
Para ser um PM para QUÊ?”
Já vociferava o então cacique
Antônio Carlos Peixoto de Magalhães!
As esquerdas caíram e se confundiram
Assim que foi concedida a Anistia Política
E abolida a Ditadura...
O que assistimos em pleno ano de 1995
É a presença forte do PFL
Mesclada com presenças oportunas
Do PSDB;
O PT é um partido do contra,
De contestação radical,
Naufrago perdido nas intempéries
Escolho sob o vendaval,
Se algum dia o PT chegar ao poder
O Brasil será uma merda boiando na água!...
Feira de Santana
E o frescor das tardes estivais
Quando desço a Ava. Senhor dos Passos
Passo em frente ao Cine Timbira
Paro nas Lojas M.M. para abraçar o Miltão
E naquele papo gostoso
O Miltão com o seu jeito e sorriso dengoso
Vende-nos uma camisa social importada...
A Galeria CARMAC com os seus boxs de vidro
As suas lojinhas modestas e óticas especializadas
Os seus artigos de luxo e mercadorias importadas
O vai e vem dos jovens pelos corredores em “L”
E a música ambiente sussurrando nos ouvidos da gente...
Lembro-me que foi no restaurante dessa Galeria CARMAC
Exatamente quinze anos atrás
Que soube da notícia que me abalou o Espírito:
A morte do poetinha Vinícius de Moraes!
Depois que o Vinícius se foi ficou mais órfã a Poesia
Que a alegria e o estro do poeta lhe davam,
Hoje se escreve versos como quem anda
Abstrato e solitário
Nas beiras das estradas...
Feira de Santana
E a recordação duradoura
Da amiga e amiga Maria Auxiliadora Azevedo
Quando relembro das suas lágrimas tristes
Aflorando os seus olhos de mágoa
Ao ouvir as canções que o Vinícius de Moraes cantava
Nas tardes vazias de Feira de Santana:
“_EU SEI QUE VOU TE AMAR
POR TODA A MINHA VIDA EU VOU TE AMAR
DESESPERADAMENTE, EU SEI QUE VOU TE AMAR!...”
E as lágrimas ardentes e copiosas
Brotam dos olhos meigos e sofredores da minha Mara,
Eu não sei o que se lhe vai na Alma
Ao ouvir esta melodia
Mas o certo é que ela transborda em pranto
Ao ouvir o poetinha:
“_EU SEI QUE VOU TE AMAR
POR TODA A MINHA VIDA EU VOU TE AMAR!”
Feira de Santana
Do amigo, poeta e compositor Carlos Pitta,
No tempo em que ele trabalhava
Na sucursal do inesquecível Jornal da Bahia
Situada na Rua Conselheiro Franco, nº 94
E ali, atrás de uma velha escrivania,
O rosto adornado por um sorriso manso
O Carlos Pitta escrevia versos
E cantava melodias e canções
Dedilhando o violão
Enchendo de felicidades o ambiente,
Mas quando chegava o final de semana
E o seu trabalho já estava findo,
O Carlos Pitta ia para a cidade de Amélia Rodrigues
Onde na década de 1970 eu residia
E na companhia do poeta Fernando Antônio Pinto
Ele aparecia lá em casa com o seu violão
E eram tardes de sábado
E dias inteiros de domingo
Embaladas ao som de músicas doces
Num ambiente de festas,
A minha casa, tão modesta,
Abria as suas portas para dóceis serestas
Ou estranhas canções sertanejas
Escritas às avessas
Pelo poeta Carlos Pitta...
O Carlos Pitta falava dos compositores
Jereba, Patinhas,
E das viagens que eles faziam
Nos românticos caminhões paus-de-arara
Tocando músicas brejeiras
Nos acordes suaves dos seus violões...
Feira de Santana
Da antiga Revista HERA
Do poeta Antônio Brasileiro
Onde a poesia feirense foi dignificada
Nos versos desse jovem
Que a canta por inteiro,
E por falar em literatura
Louvemos outro veículo de informação
O jornal FEIRA HOJE
Que primando pela discrição
Noticia os fatos acontecidos
Neste pacato rincão,
Mas com o correr do tempo
E os saltos do desenvolvimento
Este jornal cresceu e atingiu a maioridade
Nas mãos do senhor Luiz Pedro Irujo
Que o retirou da periodicidade
Dando um novo dinamismo e impulso
Colocando-o na Era da Modernidade!
Feira de Santana
Ainda tem um jornal mais antigo
Chama-se ele FOLHA DO NORTE
Fundado em 19 de setembro de 1909,
É o baluarte da notícia
Onde, na minha mocidade, trabalhei,
Ainda verde e sem malícias,
Lembro-me do local acanhado
Onde o mesmo era instalado
Com suas máquinas modestas
Todavia, todas as manhãs,
Eram ruidosas festas
Quando ele saía da rotativa
Entre mil bravos e vivas,
E o FOLHA DO NORTE, pioneiro,
Orgulha-se até hoje de dar as notícias
Honestas e francas – por inteiro! –
Feira de Santana
Terra querida da Minha Mãe
ANA BAHIA MENEZES,
Quando ela recorda-se da Rua Direita,
A construção da Igreja do Senhor dos Passos
A falada Rua do Meio, a Rua da Aurora,
E do seu tempo de normalista
Quando nos conta da sua formatura
Em magistério
Quase cinquenta anos atrás
Na antiga Escola Normal de Feira
Regida pela batuta altaneira
Do Prof. Gastão Guimarães,
Os estudaram alguns dos irmãos PITOMBO
Filhos da Da. Julieta Pitombo:
Diva... Dival... Waldir... Arlindo e Dete
Formando uma família alegre e satisfeita!
A única notícia triste
Foi quando a Minha Mãe assistiu o desfile garboso
Dos rapazes que naquela época
Foram convocados para lutar
Na Segunda Grande Guerra
A fim defenderem as honras da Pátria
E serem sepultados n’outras terras...
Feira de Santana
Do velho amigo e advogado
Dr. JOEL DERIVALDO DE ALMEIDA
Que não foge a uma boa retórica
Nem ao baralho,
Que sempre está presente na Tribuna
O seu abençoado local de trabalho
Seja para acusar ou defender
O nêgo Joel bota para foder
E tal a conhecida dupla São Cosme e São Damião,
Não sai da companhia do seu irmão
E lá se vão os dois de mãos dadas:
Dr. JOEL DERIVALDO DE ALMEIDA e o Dr. JAIR ALMEIDA
Das injustiças da vida combatendo
E fazendo do brasão da Justiça a sua única estrada
Mostrando à cidade de Feira de Santana
Que o DIREITO nos dois fez morada!
Mas não podemos nos esquecer
Do iluminado e pacato Dr. RAIMUNDO LISBOA
Causídico de “muito peso” e de uma prosa boa
Com a sua simpatia, paciência e tato,
Como pessoa humana ou esclarecido advogado
Resolve sempre com um sorriso nos lábios
As questões jurídicas da cidade...
E a Dra. DENISE ALMEIDA, mulata altaneira e bonita,
Segue as trilhas dos irmãos Joel e Jair Almeida,
E a exemplo da Dra. ANA RITA BRAGA
Exerce as suas funções com zelo e dignidade
Mostrando a todos que a mulher tem o seu lugar
Neste mundo de tanta desonra e deslealdade!
Feira de Santana
E quem não se recorda
Das noitadas loucas de arte e poesia
Onde se reunia o moderno e a nostalgia
Quando se ouvia música pop... e mambo
No apartamento “prafentex”
Do MANOEL CHRISTO PLANZO?
A orgia começava às dez horas da noite
E eram mulheres gostosas e lindas,
Homens de todos os tipos
Cabelos black-power, outros lisos,
Ou encaracolados, negros e longos iguais aos meus,
Onde negros, ou brancos ou mulatos,
Todos ali eram bem chegados
E em meio a total descontração
A fumaça subia
E os dentes dançavam
No escuro das lâmpadas luz - negra
A sua coreografia de risos e estrelas...
Bebidas em profusão
Uma amizade colorida e sincera
E o Prof. MANOEL CHRISTO PLANZO era
O precursor do pop no top,
Ele era pop e era top
Um Michael Jackson já amadurecido
Vivenciando espiritualmente a sua época;
E a fumaça subia
E os nossos olhos
Os nossos olhos molhados
Pelo vício e pelo êxtase
Em meio àquela fumaça tênue
E entorpecedora,
Agradeciam...
Lá no apartamento do Planzo
Eu conheci o Joel Derivaldo de Almeida,
Futuro e próspero advogado
Ainda de cabeça raspada
Do último Vestibular da UFBA,
E também o poeta e escritor
LUIZ ADEMIR SOUZA
E a sua satânica e bela
Maristela...
A “PROSTITUTA VIRGEM”!
Feira de Santana
Da Agência da Previdência Social
Do então INPS
Sita à Rua Sales Barbosa, nº 116,
Onde desde as quatro horas da madrugada
Já existiam filas de segurados
Aguardando a sua vez...
E na escuridão da calçada
Gente pobre, faminta e desesperada,
Usando xales encardidos
E sobrinhas desbotadas
Todos magrinhos e desenxabidos
Procurando se proteger
Do frio das madrugadas
Em busca de benefícios assistenciais;
Sete horas da manhã
E abrem-se as portas do ex-INPS
Quando aquela plebe ignara
Invade o prédio desembestada
Atropelando-se nos elevadores
Obsoletos
Ou pelas apertadas escadas
Esguias, que mais parecem becos,
E com os corações aos pulos
Expõem todos os seus sofrimentos
Nos balcões de atendimentos
Autênticas ANTE CÂMERAS DO INFERNO!
Feira de Santana
E a ex-Agência do INPS
Nos bons tempos do Romeu,
ROMEU CARLOS DE SANT’ANNA
Caboclo muito bem disposto
E sem peias na língua
Conhecedor do assunto
Entendia do riscado
Discutia com trambiqueiros,
Atravessadores e tratantes
Que tentavam indevidamente
Conceder supostos benefícios
Aos pobres dos segurados...
ROMEU CARLOS DE SANT’ANNA
Figura respeitada
Nunca se ouvia sua opinião
Ser nem de leve contestada,
Homem forte e de bom coração
ROMEU CARLOS DE SANT’ANNA
Foi o baluarte e o moirão
Em que se resguardou
A nossa Instituição!
Feira de Santana
Anda teve na história
Da Agência do ex-INPS
Outro nome de glória
E de passado que o enobrece,
O CARLOS ANTÔNIO MADEIRA GUIMARÃES
Conhecido homem pobro
Sabedor do seu ofício
Destrinchava quaisquer benefícios
Atendendo com presteza,
Autentico gentleman
Com ares de advogado
Presidia Justificações Administrativas – JAs
Atendia e orientava os segurados
Emitia Solicitações de Pesquisas,
Analisava processos e mandava o seu recado
Aos colegas que o consultavam...
O Carlos Madeira é um exemplo
Pela sua natureza,
É hoje um homem formado
No mundo das Letras respeitado
Ensina inglês aos ingleses
E com aquela mesma calma de sempre
Elegeu-se vereador da sua gente
E já de cabelos grisalhos
O CARLOS ANTÔNIO MADEIRA GUIMARÃES
É o verdadeiro e uníssono relicário
Onde se miram os JUSTOS!
Feira de Santana
Ainda madrugada
O sol mal desponta
E a cidade é despertada
Com uma ensurdecedora alvorada
De mil foguetes festivos!
Não lembra Maria Auxiliadora Azevedo,
Da Festa da Padroeira?
Ah!... dia 26 de julho
A cidade desperta em festas
Louvando a Senhora Santana,
Na Igreja da Matriz
Todas as portas e janelas abertas
Acolhendo o povo contrito
Que reza com devoção
Não deixando que a festa perca o brilho
E a Ela entregam-se de coração
Realizando missas e novenas festivas
Enchendo de orações e pedidos
O altar da Padroeira,
Pagando promessas, oferecendo benditos,
À Santa Maior de Feira!...
Feira de Santana
Entardecer do dia 26 de julho,
O povo católico da cidade
Reúne-se num doce murmúrio
A rezar pela Padroeira,
A excelsa Santana querida
E de todos os cantos de Feira
Aparece aquela gente contrita
Velhos, crianças, a comunidade inteira,
E a juventude bonita...
A Banda toca lá no Coreto
Velhas melodias de outrora
Algumas pessoas acenam os lenços
Outras batem palmas e choram,
E quando os andores dos Santos
Começam a sair da Igreja
Perfilando-se em procissão,
A cada imagem que aparece
São salvas de foguetes
Que entontecem
E entre júbilos e vivas,
Troar de foguetes que espocam,
Lágrimas de luzes nos céus brilham
E nos lábios os sorrisos brotam
Em cálidas e ardentes preces
Em bravos e pujantes vivas
Em palmas que unidas tecem
Louvores à Senhora Santana querida!
Feira de Santana
E a saudade abençoada
Do velho amigo PADRE RENATO GALVÃO
Que nos bons tempos da cidade de Feira
Dirigia com a sua imagem altaneira
O andor da Senhora Santana na procissão...
PADRE RENATO GALVÃO
Inteligência universal da cidade
De tudo ele entendia
O da História ou da Ciência
De tudo ele conhecia
E ainda não sei se “goteira” ou “iniciado”,
Dava seus palpites em Maçonaria!
E durante as aulas de Moral e Cívica na UEFS
Que ele galhardamente ministrava
Falava-me de histórias valentes
Dos tempos dos cangaceiros
Conheceu Lampião
E seu bando de arruaceiros,
Deles fez-se amigo e irmão
Confidente e conselheiro,
Andava pelas estradas antigas
Debaixo do calor do sol
A ensinar religiosidade
Ao povo do campo
E da cidade,
Não media sacrifícios,
No lombo da mula
Ou no fusca
Sempre numa labuta maluca
Pregando os seus sermões nas Igrejas
Ou ensinando na cátedra da Universidade UEFS
O PADRE RENATO GALVÃO
Transpirava ciência – era valor –
Era ante a tudo a autenticidade
Que a cidade de Feira de Santana perdeu
E hoje num pranto de saudades chora a sua dor!
Feira de Santana
Tudo em você é recordação que aflora
Ao lembrar-me do DIVAL PITOMBO
Amigo e colega da Minha Mãe
ANA BAHIA MENEZES
Da antiga Escola Normal de Feira,
Onde naquele tempo estudava
Aquela juventude altaneira...
Nos seus tempos de normalista
Na então cidade de Feira
Época da Segunda Grande Guerra
Em que os pais angustiados e nervosos
Viam os filhos partirem para a guerra
Esquálidos, frouxos e medrosos...
Tempos de apreensão aqueles
Em que o mundo vivia em insegurança,
No peito dos feirenses, porém havia,
Raios da mais límpida esperança!...
A Minha Mãe era interna
No SOLAR de Da, JULIETA PITOMBO
Onde era tratada como filha e princesa;
A Minha Mãe viveu dias
De faustos e riquezas
Onde a busca do saber era compensada
Nas companhias constantes do Dival e do Arlindo,
Ainda do Waldir, Diva e Dete,
Juntos, formavam uma só Família,
E tanto estudavam como pintavam o sete!!
Feira de Santana
Tudo em você são reminiscências doces
E na penumbra dessa noite
Em que o meu Espírito esta quieto
Eu lembro-me ainda do amigo DIVAL PITOMBO
E das lições de Literatura
Representadas nos seus versos!
Poeta de douta rima
E personalidade modesta
O DIVAL PITOMBO foi o marco cultural
Pedra angular da nossa Universidade UEFS,
Criador do Museu Regional
Incentivava os jovens artistas
Fossem eles pintores, escultores,
Músicos ou parasitas
Tinham eles no coração do DIVAL PITOMBO
Uma proteção a perder de vista!...
Incentivador da Arte em geral
Professor de Universidade
Baluarte da Cultura
Desta terra hospitaleira
O DIVAL PITOMBO
Bem que merece um pedestal
Numa bem merecida homenagem
Nesta abençoada cidade de Feira!
Feira de Santana
Toda terra tem um mito
Aqui, o DIVAL PITOMBO,
Nas letras e nas artes
Ficou conhecido pelos seus agitos...
Todavia, ainda nos campos do Saber,
Não tem para onde correr
Em paciência e esmero
O PROF. JOSUÉ DA SILVA MELLO
É de fato gente importante!
Modesto como ele só
Vestido de erudição e bondade
Mostrava-nos com dignidade
Os rumos da cultura e da eloquência,
Com a sua brilhante inteligência
E natural capacidade
O PROF. JOSUÉ DA SILVA MELLO
Vai mostrando e ministrando
Com paciência e sapiência
Os rumos das artes e da história,
Esteio da nossa Universidade UEFS
Luz da Verdade e da Glória!
Orgulho-me de um dia ser seu discípulo
No antigo Colégio Estadual de Feira de Santana
Na tumultuada década de 1970;
Quando eu ia de Amélia Rodrigues à Feira, os ônibus da “REAL BAHIA”
Eram parados em blitzes sumárias,
E os policiais respiravam aliviados
Quando revistavam os meus papéis amassados
Cheios de versos nervosos escritos na língua inglesa
Contando, entrelinhas e às avessas,
Da Ditadura Militar então reinante e soberba
As suas horrorosas e gritantes histórias!
Mas os policiais militares por não saberem inglês
E por serem totalmente analfabetos em português
Sorriam debochadamente e falavam entre eles:
“_APENAS ALGUNS VERSOS BOBOS... NADA MAIS!”