Barcarola das Lembranças

Meu seio ferido como um pássaro

Vela de amor por ti,

Canta em motas de leve pluma

A luz que a palpitar senti.

A dor etérea deste arrebatamento

Simples como a inspiração,

Lava em aurora o pensamento

E em poentes o coração.

Mulher, a extensão destes afagos,

Destas caricias o voar,

Enche o teu olhar de lagos

Espelhos do teu luar!

Voa,voa em teu corpo o dia

Amante que entrelaçaste

Com cabelos mimosos de alegria

Nas brisas que sussurraste.

Branda melancolia me dissolve

Junto ao teu lembrar,

Vaga nebulosa que envolve

O lábio a delirar.

Que na vida sigas como a festa

Prenhe de odores e alegria,

Mar que o sol do sentimento doura

Do manto da larga fantasia.

Terna como um harpejar envolto

Na languidez do proprio sussurro,

Doce como o mel de luz cadente

Embalsamada no ar teso e puro.

Meu seio terno como um pássaro

Vela de amor por ti,

Cuidado que o peito embala

E nutre qual colibri.

Em teus mínimos gestos descubro

Diamantes vivendo

Com o coração que esboça praias

Nos sonhos que vai tecendo.

Quando a noite desce como um beijo

Em silenciosa comunhão

Une as flores árduas do desejo

A corrente de astros da união.

A memória é a contadora dos tesouros

Que a vida na alma acumula,

Resgata um regato que arrulha

E a terra é ave que pupula.

Ao som do meu peito sinfônico

Reverbera feliz o espaço,

Ao tocar da flauta celeste da estrela

Ao brilhar da harmonia do abraço.

Onde vou tua lembrança acompanha

Tudo que há de céu nos meus passos

Se há azul no olhar do firmamento

È que ungiste de amor os compassos.

É que teu riso corou junto amanhã,

É que teu choro criou perolas de luz,

Lá no reino teu da imensidade,

Lá no trono que amar-te traduz.

Meu seio ferido como um pássaro

Cisma, ninho de riso,

Cisma tristonho como a chama

Enclausurada em jaulas de granizo.

Na tua ausência... dorme a amplitude,

Junto a teu ser o azul sorri,

Meu seio cantarola como o lírio,

Lança perfume,como o colibri.