DA JANELA DO MEU QUARTO

Da janela do meu quarto no silêncio desvairo

E como no filme, assisti a cenas de meu viver

Revejo travessias de lembranças não esquecidas

Fases de minha vida, que da janela posso ver.

 

Com o olhar imerso no imenso azul do céu

Comovida, encontro-me com tudo que ali deixei

A casinha de alpendre feita de taipa e barro

E no terreiro a carnaubeira, que por lá plantei.

 

Ainda absorta em meus devaneios, da janela

Por entre árvores, uma ave feliz ouço cantar

Do barreiro com a cabaça d'água na cabeça

Vejo o meu santo pai, alegremente assobiar.

 

Ainda na janela, me transporto mais à frente

Fecho os olhos, e continuo no meu lugar

Na cozinha, avisto minha mãe de vestido florido

Na beira do fogão ateando a lenha a cantarolar.

 

E assim, da minha janela, eu vou mais além

Vejo ali, a menina moça toda emperiquitada

Usando um vestido cor-de-rosa de seda traçado

Na espera de um príncipe encantado passar.

 

(fatima fontenele Lopes)