Ícaro
Mais uma vez eu olho para o céu.
Miro também a parede onde pendurei as asas.
Por que eu parei de voar?
Certamente não foi por medo da altura, ou mesmo de cair.
Estaria eu equivocado quanto aos medos?
Temo a brisa no rosto, as madeixas ao vento.
Temo o gosto de liberdade, o calor do Sol, o sabor do mar.
Temo o frio na barriga e a visão do mar enquanto caio.
Miro as asas na parede e me enfureço.
Destruo pena por pena, sinto ódio de cada ser alado.
Me arrependo, construo, refaço e visto as asas no topo da torre.
Me lanço.
Me arrependo novamente (não), bato as asas e subo mais alto do que deveria.
As penas fogem, o fogo assume.
Ventos açoitam o rosto, cabelo chicoteando o ar.
Eu despenco.
Juro que um dia eu aprendo a caminhar.