LIBERTEI A CRIANÇA

Na imensa lousa do céu

Coberta de pó de giz

Desenhei tudo que eu quis:

Um homem com chapéu;

Pássaros de hábitos diurnos;

Borboletas formosas;

Muitas ovelhas lanosas;

Morcegos em vôos noturnos.

Vovó com cabelos de prata,

O bolo que me deliciava,

O gato que eu amava

E a rosa plantada na lata.

Não me cansava de inventar,

E minha lousa era rica

De lembrança que fica

Como um cãozinho a ladrar

Correndo atrás da gente,

Brincando de esconde-esconde,

De subir no estribo do bonde:

- Olha no céu a serpente...!

Gritou a criança escondida

Nas cavernas de minh’alma,

Ao ser liberada sem trauma

Vendo longa nuvem perdida

Na mesma lousa coberta

Com o mesmo pó de giz.

De rogada não me fiz,

Rabisquei uma porta aberta

Para que volte a criança

Guardar seu imenso tesouro,

Pode ser um grilo ou besouro

Ou um fio de esperança.

02/10/05.