EXALTAÇÃO AO LAGO
Formei me no lago super guardado
Onde o fecundo vital se uniu e cresceu
Não me afoguei , mas fui consagrado
Por mistério indecifrável , tinha que ser eu
Ah ... se fora outro nessa bela paridade
O meu espaço não seria por ele preenchido
O vazio seria , sim , a minha eternidade
Nem o verbo " ser " jamais teria existido
Cheguei por veredas de agudas dores
Onde as areias em pedras se transformaram
Em lívidas palavras de tétricos rancores
Parei no mar de angustia que não cessaram
Procelas lentas , ora intrigantes e velozes
Devassam os passos , ora cambaleantes
Ora firmes no ecoar das findas vozes
Que vem do ceticismo de pensares anulantes
E a imensidão do finito , do algoz
Inalcançável , de um todo invisível
Sem saber se pode prender com mil sois
Um pedacinho só do imperceptível
Quem gerou os ideais imortais
Que em mim deveras me sangram
E me fazem conceber outros muito mais
Na leveza dos que entre si se zangam
Não , não posso dizer mesmo que soubesse
Dos intrincados ramais de gelos inacessíveis
Que vagam entre o ódio e o amor que cresce
Na orla da carne nula dos não comestíveis
oh... querido lago que o belo projetou
A essência mais nobre do universo
A vida que a tudo nele desafiou
Da prisão da liberdade ao mais perverso
Um " sem " tentou burlar a verdade
E submergir no lago ainda com vida
O mais precioso de avantajada qualidade
O amor , que move a vinda e ida
De onde vieram os rústicos devaneios planetários
Por certo não vieram do alto , do distante céu
Mas do inferno com seus banais rosários
Para destruir a paz que já vive ao léu
Onde eu vim parar , será que mereci ?
Do pequeno lago á ver a hostilidade nua
Navegando nos mares de vagas que vi
De espumas , carregando o belo que flutua
Na ausência do feio que de repente surge
Entre os belos , mais feio , que o feio fica
Vejo que a necessidade do ágil urge
A velocidade da luz deixarei quem fica
E lá ,bem distante de tudo que deixei
Buscarei lugar no vazio de onde sai
Para viver o branco da alegria que derramei
Quebrando antes a taça vazia que ficará por aqui
Sou surrealista , o abstrato rejeito
Não estou incrustado entre os nomes " gênio "
Não quero ver o cair das estrelas do jeito
Do apocalipse , que serão apenas bombas de hidrogênio ...
José Braz da Costa