Terça Gorda
Na cidade, no coração da praça, o pandeiro e o tambor
Encontraram-se com a cuíca, o tamborim e o reco-reco.
E abraçaram a terça gorda num papo afinado de boteco.
Cantaram à vida, ao samba, à rosa, ao espinho e à flor.
A cidade que dormia, abriu os ouvidos ao som da praça,
De repente, chegou toda em dourado, uma enorme taça,
Uma bailarina azul celeste, a enfermeira toda de branco,
O bêbado, Peter Pan, Sininho, um Arlequim em prantos.
Veio também, o ladrão e o delegado, o pastor e o padre,
Todos os políticos à direita e à esquerda de mãos dadas,
Como hipnotizadas pelo som e luz da praça, alucinadas,
Apareceram borboletas, abelhas, joaninhas e uma madre.
Patos, ratos e gatos da Disney, em respeito ao tamborim,
Guiados por Pan, pularam os muros e invadiram a praça,
E a cuíca gritou a toda gente que abrisse a roda à mulata,
À ginga que veio da África e para aquela alegria sem fim.
E assim foi à tarde e à noite inteira, até à alta madrugada,
Quando o badalar dos sinos da matriz avisou ao pandeiro
O fim da festa, as cinzas nasciam nas lâmpadas apagadas,
E a cidade retornou ao sono no verde das serras, fatigada!