Terça Gorda

Na cidade, no coração da praça, o pandeiro e o tambor

Encontraram-se com a cuíca, o tamborim e o reco-reco.

E abraçaram a terça gorda num papo afinado de boteco.

Cantaram à vida, ao samba, à rosa, ao espinho e à flor.

A cidade que dormia, abriu os ouvidos ao som da praça,

De repente, chegou toda em dourado, uma enorme taça,

Uma bailarina azul celeste, a enfermeira toda de branco,

O bêbado, Peter Pan, Sininho, um Arlequim em prantos.

Veio também, o ladrão e o delegado, o pastor e o padre,

Todos os políticos à direita e à esquerda de mãos dadas,

Como hipnotizadas pelo som e luz da praça, alucinadas,

Apareceram borboletas, abelhas, joaninhas e uma madre.

Patos, ratos e gatos da Disney, em respeito ao tamborim,

Guiados por Pan, pularam os muros e invadiram a praça,

E a cuíca gritou a toda gente que abrisse a roda à mulata,

À ginga que veio da África e para aquela alegria sem fim.

E assim foi à tarde e à noite inteira, até à alta madrugada,

Quando o badalar dos sinos da matriz avisou ao pandeiro

O fim da festa, as cinzas nasciam nas lâmpadas apagadas,

E a cidade retornou ao sono no verde das serras, fatigada!

MAReis
Enviado por MAReis em 17/02/2016
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