A Flor de Chanana
Menino, colhia da chanana as flores
Alvinitentes no pátio, às centenas...
Nunca busquei aferir-lhes os olores;
Colhia-as porque fascinantes, apenas.
Pelas manhãs, infalíveis, generosas,
Apesar de seco e cinzento o sertão,
Alvejam entre suas folhas viçosas...
Chegada a tarde, murcham todas...se vão...
Dava-as a minha mãe que, na mesma hora,
Depois de dizer, enquanto me abraçava:
"Você é outra flor!..." à Nossa Senhora,
Na cabeceira da cama, as ofertava.
Repentina emoção...inoculava amor:
O doce olhar da Santa que me fitava,
Ornada de flores - rosas eu chamava -,
E dos abraços de minha mãe o calor.
A desvendadora ciência, afinal,
Revela na chanana a damianina,
Princípios amargos, óleo essencial,
A pepsina, a resina, além da cafeína.
Para mim, contudo, seu melhor valor,
Mais que propriedades e resistência,
Beleza peculiar e persistência,
Está na sua eterna, inesquecível flor.
Guardiã do olhar piedoso de Maria,
Dos abraços ternos de minha mãezinha...
Evocação de genuína alegria,
Bênção de duas santas para a vida minha.
Sobral (CE), 15 de fevereiro de 2016.