Memórias emprestadas
Diz que o moço andava a moda Maneco,
caçando infâncias
para florear o peso do corpo crescido.
Colhera naquela tarde,
trepado no pé de lembranças,
oito Instantes do tempo das delícias:
as guerras com bombas de barro sob a chuva;
os brinquedos inventados com sobras surrupiadas da marcenaria do bairro;
os jogos de bola no Terrão Futebol Clube;
a metamorfose das tubulações de captação d’água,
que logo viravam esconderijos;
as explorações ao Terreno do Papa,
pé ante pé na expectativa do encontro com bichos;
as caronas desavisadas em qualquer vagão do trem, até o brejo;
as traquinagens noturnas com as máquinas que trabalhavam a asfaltar o bairro;
o tanque d´água esquecido na rua, virado em sede do clube da molecada.
Dormira afinal, uma noite tranquila
Empanturrado!
o alimento da alma-criança
estocado na prateleira da memória.
E sonhou...
acordado demais para permanecer no corpo em repouso.
(da série: Histórias furtadas ao acaso)