ELEGIA PRA UMA AMAZONA MORGADA

Amiga irmã, tu que partiste, já saudosa

P´ la vida que passaste tão atribulada,

Aqui te deixo esta mensagem partilhada

Da fugaz lira, numa veia generosa,

Feita elegia pra uma amazona morgada.

Sei que não eram versos tua especialidade,

Mas também sei que tinhas alma de artista,

E, neste meu discurso um pouco idealista,

Quero que o sintas com aquela probidade

Que te era em cada circunstância realista.

Nesta chuvosa tarde da Bracara Augusta

Frente à lívida face que te observo fria

Para ti endereço esta minha elegia

Que não quero deixar de o fazer, pois me custa

Seguir caminho eivado de melancolia.

Três dezenas de amigos deixam-te homenagem,

Tu que sempre jejuaste de rara afeição,

Não quero, nem queremos, perder a ocasião

De ansiar para ti, nesta eternal viagem,

A refrigerante paz para a tua solidão.

Ver-te descer assim a esta térrea senda

Foi para mim penoso, na derradeira hora,

Ver estancar teu rio de penas e ires embora,

E desta forma, ao completar-se, se desvenda

A tua própria história revelada agora.

Tu foste em tua vida uma amazona alada

Voando atrás de um sonho e, de lança em riste,

Tentaste combater contra um moinho triste,

Com fortes vendavais a miúde confrontada,

Como quem leva ao fim a luta e não desiste.

Mas tal façanha, tu bem sabes, foi perdida

Embora alguma réstia, talvez haja ficado

Como semente de um projecto inacabado

Naquele destino incerto da concreta vida

Que tu sonhaste um dia haver principiado.

O teu sonhar, porém, em espanto há-de ficar

Pra quem ousar perpetuar tua memória,

S´ é que se pode abrir uma outra nova história

Por entre névoas dum horizonte por sondar…

Mas isso, podes crer, será tarefa inglória.

Morgada, tu quiseste ser, da geração

Que ficou desasada prematuramente,

Mas jamais conseguiste ver, à tua frente,

Uma outra sorte que não fosse eterno “não”

Arrastando uma cruz de vida descontente.

Amazona morgada, de alma quixotesca,

Partes agora rumo à caminhada eterna

Para a sublime paz duma aura sempiterna

E eu, e nós, cá ficamos em saudade fresca

Nesta diáspora efémera que nos consterna.

Até sempre, Custódia de Campos Machado.

Aceita a simples homenagem de irmãos teus,

Já que dormes pacífica nas mãos de Deus,

E que a perene brisa de tristeza e fado

Permita que esta prece te acompanhe aos céus!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 10/01/2016
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