Poema de Sete Vidas
Quando nasci uma estrela-guia torta
Dessas que olham pro outro lado
disse: Vai, guria! Ser caco na vida
Com esse raio de conselho
Não tive muitas saídas
E vivi não apenas uma
Mas sete vidas
Em minha primeira vida
Era um bebê numa cidade estranha
Que mutuamente não compreendi
E até hoje não sei ao certo
O que ali eu vivi
Minha segunda vida
Foi perto do mangue e do mar
E ainda era nova demais para entender
Todos os dilemas adultos a me cercar
Minha terceira vida aconteceu de repente
Fui arrastada para um lugar isolado
Onde precisando de ajuda havia muita gente
Cresci rápido demais para minha idade
E endureci por não mais poder lidar com toda minha sensibilidade
Em minha quarta vida eu ousei
Viver um pouco de loucura
Construí países e universos
E fiz de tudo uma aventura
Quis que durasse mais tempo
Mas logo essa parte de mim foi também levada pelo vento
Em minha quinta vida voltei
À cidade dos meus antepassados
O lugar ao qual deveria pertencer
Mas de onde fugi assim que novos dados foram lançados
Minha sexta vida começou
Num lugar pequeno perto do fim do mundo
Foi onde deixei de ser menina e virei mulher
Onde me encontrei com meu eu mais profundo
É onde os desafios nunca terminam
Onde luto para ficar de pé por mais um dia
Minha sétima vida
Ainda está por vir
É aquela expectativa constante
De que o Universo vai logo interferir
E ninguém sabe para onde irá mandar esta alma errante
Universo, Universo, vasto Universo
Se eu tentasse o inverso
Seria uma rima, não seria uma solução
Universo, Universo, vasto Universo
Mais vasta é minha Missão
Eu nem devia lhes contar
Mas esse gosto de morango
E esse céu enluarado
Deixam qualquer um inebriado
(Livremente inspirado no "Poema de Sete Faces", de Carlos Drummond de Andrade)