No meio da madrugada
No meio da estuosa madrugada,
Senti minh’alma arfante, além de mim;
A levitar nu’a sala emoldurada,
De flores extremosas — de jasmim!
Chamava a amada, num reflexo calmo,
Para qu’ela enxergasse um querubim
Voando entre os meus eus, cantando salmo,
Deixando uns mores versos, no jardim!
Clamava para a minha doce amada,
Num soluçar de ardor, em cantoria,
Mas não ouvia a música, lá na sala,
Qu’eu solfejava ao vento, co’ euforia.
Como um pássaro livre, eu flutuava
Levemente, a vagar em pleno ar...
Tudo aquilo deveras me encantava,
E eu não parava, enfim, de me encantar.
Mas, na medida em qu’eu já levitava...
Tentei manter meu corpo sempre ereto;
Com mais cuidado — olhava e controlava,
P’ra qu’eu não trespassasse o imenso teto.
Inclinei-me bem mais que obliquamente,
Para evitar o choque em minha cabeça...
E olhei-me esmensurado e, eventualmente,
Temendo a colisão — com medo à beça!
Pois vi meu corpo imenso em multiforme,
Co’os pés iluminados a aceitar
A luz que cintilava um azul biforme...
A acalentar minh’aura e abrilhantar.
Quando os meus pés viraram para o teto...
Uma imagem incandescente e onipresente
Brilhava intensamente em meus trajetos...
— Uma estrela cintilante e reluzente,
Surgiu ali diante dos meus olhos!...
Senti-me como se’eu pudesse e desse
P’ra ver o sol e a lua entre os abrolhos,
Aquecendo minh’alma, e que aprouvesse!
E percebi que estava a navegar,
Remando a esmo, em vagas, dando saltos...
E via-me num vácuo — a deslumbrar
O Empíreo e os meus reflexos, lá no alto.
Imaginei escutar uma outra voz,
Pedindo p’ra acordar, e não sonhar!...
Mas um gemido no terror do algoz...
Manifestou-se lânguido a chorar.
E derramou as lágrimas na selva,
Nos álamos, num exílio ermo de dor...
Onde a amargura e a desventura e a gelva
Tombavam entre os rochedos, sem pudor.
... E o bálsamo da flor, nu’a ardente relva,
Levou-me à imensidade, em puro olor...
Nas asas d’uma formosa e suave coelva...
Deixou-me um embevecido ardor de amor!
Chamei o Rabi Jesus de Nazaré,
Pr’eu retornar àquela luz, que abraça,
Que enalteceu minh’alma, qual maré...
Nesse oceano infindo — em Vossa graça!...
Pacco