Não-Já Não Falo de Ti.

Não:

já não falo de ti,

já não sei de saudades.

Feche-se o coração como um livro,

cheio de imagens,

de palavras adormecidas,

em altas prateleiras,

até que o pó desfaça o pobre desespero

sem força,

que um dia,

pode ser,

parece tão terrível.

A aranha dorme em sua teia,

lá fora,

entre a roseira e o muro.

Resplandecem os azulejos- e tudo quanto posso ver.

O resto é imaginado,

e não coincide,

e é temerário cismar.

Talvez se as pálpebras pudessem

inventar outros sonhos,

não de vida...

Ah!

rompem-se na noite ardentes violas,

pelo ar e pelo frio subitamente roçadas.

Por onde pascerão,

nestes céus invioláveis,

nossas perguntas

com suas crinas de séculos arrastando-se...

Não só de amor a noite transborda

mas de terríveis crueldades,

loucuras,

de homicídios mais verdadeiros.

Os homens de sangue

estão nas esquinas resfolegando,

e os homens da lei sonolentos

movem letras sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem...

Ah!

que rosto amaríamos ver inclinar-se na aérea varanda?

Nem os santos podem mais nada.

Talvez os anjos abstratos da álgebra e da geometria.

Milay
Enviado por Milay em 01/10/2015
Código do texto: T5400606
Classificação de conteúdo: seguro