Não-Já Não Falo de Ti.
Não:
já não falo de ti,
já não sei de saudades.
Feche-se o coração como um livro,
cheio de imagens,
de palavras adormecidas,
em altas prateleiras,
até que o pó desfaça o pobre desespero
sem força,
que um dia,
pode ser,
parece tão terrível.
A aranha dorme em sua teia,
lá fora,
entre a roseira e o muro.
Resplandecem os azulejos- e tudo quanto posso ver.
O resto é imaginado,
e não coincide,
e é temerário cismar.
Talvez se as pálpebras pudessem
inventar outros sonhos,
não de vida...
Ah!
rompem-se na noite ardentes violas,
pelo ar e pelo frio subitamente roçadas.
Por onde pascerão,
nestes céus invioláveis,
nossas perguntas
com suas crinas de séculos arrastando-se...
Não só de amor a noite transborda
mas de terríveis crueldades,
loucuras,
de homicídios mais verdadeiros.
Os homens de sangue
estão nas esquinas resfolegando,
e os homens da lei sonolentos
movem letras sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem...
Ah!
que rosto amaríamos ver inclinar-se na aérea varanda?
Nem os santos podem mais nada.
Talvez os anjos abstratos da álgebra e da geometria.