Málaga
Deixando Málaga
Fiscal da alfândega: Diga-me, o que você leva de Málaga,
que eu preciso registrar.
Passageiro: Levo mais de dois mil anos de história;
Levo a lua e o mar.
Levo a sombra dos cavalos;
Levo o sangue dos metais.
Levo o grito dos guerreiros;
E as ordens dos generais.
Levo barcos e velas;
O sal dos lábios dos marinheiros.
Levo belas histórias sobre sereias e donzelas.
Alguma coisa mais?
Pergunta lhe o fiscal:
Sim.
Coisas que me deu um fauno
dos jardins de Aragal.
Levo a alma do seu povo;
num livro, uma antologia.
Levo a beleza da sua língua;
Levo um século de poesia.
Levo suas montanhas tristes;
Os jardins dos seus castelos.
Levo a infância de Picasso
E seus desenhos mais belos.
Levo na boca o sabor frisante,
do vinho de Andaluzia.
Levo a lua minguante
que vi nestes poucos dias.
Senhor fiscal isso é tudo,
que eu tenho a declarar
O resto é segredo do coração e
eu não posso revelar.
Grácio Reis
Publicado no Recanto das Letras em 23/06/2007
Código do texto: T538340