UM DIA TERRÍVEL

A famélica herança que tive,
De a tudo ler, e pouco me contive,
Levou-me a situações inusitadas.
Na época em que cultivava os pudores,
E ao me expor, passava por horrores,
Sofri uma traumática experiência.
Hoje, tudo isso já não me toca em nada,
Conto a história como se fosse uma piada,
Forma passada de uma simples vivência...
Um casamento no interior mineiro,
Em que a festa durou um dia inteiro,
Com comidas e bebidas pra valer...
No dia seguinte, no ônibus lotado,
Lia um romance de Jorge Amado.
Quando a história estava mais fervente,
Uma pontada, característica de quem sente,
A mais aguda das dores de barriga...
O ônibus subia a Serra da Mantiqueira,
Em cada curva, a dor se manifestava inteira,
Enquanto tentava disfarçar da minha amiga.
A certa hora levantei-me, e com o livro na mão,
Fui pedir ao motorista que parasse...
Enquanto numa reentrância me aliviava,
Quando olhei para o alto, todo o pessoal estava,
Admirado a me ver cagar...
Que me desculpe o meu amigo Amado,
Pelas folhas do seu livro ter me limpado,
Mas o pior, foi no ônibus, ter de entrar...