Regina
Lembro-me não muito bem
de quando a boa velhinha
chegou na minha pobre rua,
vestida de simplicidade.
Foi ser minha vizinha,
parede com parede.
As casas comungavam
da mesma realidade,
vestidas de humildade.
Todas eram a cara dos donos,
pobres,simples , invisíveis.
e algumas com dificuldades.
E a meiga anciã veio fazer parte
do nosso quadro de amizade.
Dona Regina tinha um doce
no olhar que encantava.
Sua voz fraca, mas gostosa,
entrava em meu ouvido.
Quando me apeguei a ela,
tomei-a como madrinha.
Ela sentava na sua calçada
e sua voz iluminava a rua.
Dona Regina era minha
defensora, intercedia
por mim nas horas de surra.
Minha doce Regina pedia
para minha mãe não me bater.
E eu gritava seu nome
antes de minha genitora agarrar
o horrível chicote, e ela vinha.
Embora as vezes eu merecesse,
outras eu era inocente.
Um dia a rainha não levantou
da sua humilde cama, e eu chorei.
Vi quando ela saiu nos braços do esposo,
mas ela não me viu escondidinha,
ninguém viu, tranquei-me sozinha.
E em silêncio permaneci por dias.
A rua já não era a mesma
nem mesmo a calçada .
Tudo lembrava Dona Regina.
Principalmente as surras,
pois agora não tinha mais proteção.
Cresci mas ela permaneceu
Até que uma nova Regina nasceu.
Após muitos anos de lembranças,
nasce uma menina branquinha.
Meiga, silenciosa e esperta.
Lembrei da minha protetora
E sem mais delonga
Chamei-a de Regina.
Lu