Cântico de Verão
Cântico de Verão
Que infância retorna sob os sois poentes...
Os portos, os barcos dormindo, os becos úmidos
Dando na usina abandonada,
A abandonada fábrica de sonhos...
Que corpo suspirava a minha vida
E não sabia, eu: Tão todas as nuvens laranjadas
Cantando -
As mazelas da vida, e este dia
Que espiava-te - inocente - ao canto dos olhos...
Entre as gentes tortas e as casas tristes,
Corríamos pelos guetos híbridos:
Constante primaveras sob os pés;
E este inverno, ecoando
O brilho dos olhos pra onde íamos, poentes,
Tentar ser entre tantos seres úmidos.
Tudo que pensávamos eram guilhotinas,
Frames do tempo além do tempo,
Cabeças decepadas, vivas nestas tardes
Que tanto purgam essas escolhas:
Meus olhos indo com os barcos
Pra aquela: Esta vida: Outros olhos
Que afundam-me à essas águas
E vão pra nunca mais:
Teus olhos que não alcanço,
Que tanto fitava este sol
(Sóis) As seis com um pé no mar
E outro em tantos sonhos:
Que afogaram-te
Que afogaram-me
Que afogaram a cidade
E tudo o que restou e vive...
Minha vida é uma constância de noites violentas
Coração imortal sobre o mar, estilhaçado
Entre as pedras, e o pensamento de não ter um corpo
E já ter o tido: Pedra que tanto me estripo
E retorno submissas constâncias de infância...
Teus olhos ferviam os verões restantes,
E fervem hoje esses verões:
Meus olhos, correndo à praia
Sobre a imensa galeria de esgotos:
Frio despojando escuro
E os tralhotos que tentávamos pegar -
Levando-nos ao fim das margens:
'A estrada poente princípios'
(Como falavas) e eu rindo...
(E os barcos vertigem indo embora).
Outros olhos surgiam dali
No crepúsculo fragmentando-se
À usina, agora, esquecida
Entre os tantos descansos e os céus
(Castanhos fecundos)
Que refletiam-me os teus olhos
As silenciosas tardes desta mente,
Que dormem os quartos mais altos
E enferrujados; e tu e eu:
Dando de contra com o horizonte,
Dando de contra com nós mesmos.
Desde lá o destino parecia soprar esse canto;
Mas enquanto eu estivesse alvo céu entre ele,
Nada me importava a não ser essa mente...
Hoje, só o que as ondas trazem são os meus corpos:
As variações da mente, esvaindo
Aonde inverno sob os pés sangrado
O coração estilhaçado pelo tempo...
A usina continua fabricando sonhos:
Só que os barcos foram
E não voltaram mais
O fim do canto...
Fim do canto...
- Berserker Heart