Infância

Aquelas tardes da minha infância,

Plenas de sol e de cigarras!

Quando eu ficava horas perdidas

Olhando a faina das formigas

Que iam e vinham pelos carreiros,

No áspero tronco dos pessegueiros.

A chuva-de-ouro

Era um tesouro,

Quando floria.

De áureas abelhas

Toda zumbia.

O cão travesso, de nome eslavo,

Era um amigo, quase um escravo.

Merenda agreste:

Leite crioulo,

Pão feito em casa,

Com mel dourado,

Cheirando a favo.

Ao lusco-fusco, quanta alegria!

A meninada toda acorria

Para cantar, no imenso terreiro:

“Mais bom dia, Vossa Senhoria”...

Soava a canção pelo povoado inteiro

E a própria lua cirandava e ria.

Se a tarde de domingo era tranquila,

Saía-se sem rumo, em pleno sol,

No campo, recendente a clorofila.

Alegria de correr até cair,

Rolar na relva como potro novo

E quase sufocar, de tanto rir!

No riacho claro, às segundas-feiras,

Batiam roupas as lavadeiras.

Também a gente lavava trapos

Nas pedras lisas, nas corredeiras;

Catava limo e topava sapos

E alguns meninos enchiam copos.

Do tempo, só se sabia

Que no ano sempre existia

O bom tempo das laranjas

E o doce tempo dos figos...

Longínqua infância...

Plena de sol e cigarras!

Iacoe Michaela
Enviado por Iacoe Michaela em 04/08/2015
Reeditado em 26/09/2020
Código do texto: T5334865
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