E UM GRILO
E UM GRILO
Na velha casa abandonada,
Uma candeia pendurada
Na parede,
Sem azeite e sem pavio
Treme de frio,
Desenhando sombras reticentes.
Pelos corredores da velha casa,
Um anjo querubim
De nome Benjamim,
Em alva camisa de dormir
De linho puro,
Leva ao colo um menino
A chorar de medo,
Das carantonhas do escuro.
Num canto da casa, ao fundo,
Range um tear
Da idade do mundo;
E junto ao lume na lareira,
Um bichano fica-se a sonhar
Com o petisco, o “pisco”
No telhado;
E também o grilo borralhento
Ficou aprisionado
Nas teias do tempo.
Aquele menino sou eu,
Ao colo do meu avô Benjamim;
Apesar dos anos não cresceu,
E ainda hoje sente o medo
Na procura de mim.