E UM GRILO

E UM GRILO

Na velha casa abandonada,

Uma candeia pendurada

Na parede,

Sem azeite e sem pavio

Treme de frio,

Desenhando sombras reticentes.

Pelos corredores da velha casa,

Um anjo querubim

De nome Benjamim,

Em alva camisa de dormir

De linho puro,

Leva ao colo um menino

A chorar de medo,

Das carantonhas do escuro.

Num canto da casa, ao fundo,

Range um tear

Da idade do mundo;

E junto ao lume na lareira,

Um bichano fica-se a sonhar

Com o petisco, o “pisco”

No telhado;

E também o grilo borralhento

Ficou aprisionado

Nas teias do tempo.

Aquele menino sou eu,

Ao colo do meu avô Benjamim;

Apesar dos anos não cresceu,

E ainda hoje sente o medo

Na procura de mim.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 19/06/2007
Código do texto: T532920