Salinas sonâmbulas
Ontem quando fui à missa
Clamei a Deus por nossa Macau.
Pedia ao Senhor para Ele retirar
Essa sombra que cobre a cidade.
Mas o Senhor dizia que é a transição
E que o vento leste que vem do mar
Relembra a Ilha de Manoel Gonçalves
Lembram-nos o que
É da terra e o que da água,
Porém nunca aprendi a separar.
Sempre juntei no mesmo prato
As espinhas dos meus peixes
E o sobejo dos meus sonhos.
Salinas sonâmbulas
Que só caminham à noite,
Mares que umedecem
Os lábios rachados de areias,
Vento que dilacera o prontuário
Longe de vós serei um exilado.
Tenho o coração marcado pelo mar
Desde menino que o mar fez-me assim.
Nas noites escuras como marinheiro
Respira onda nua na entrada do barco.